Descrição de chapéu desmatamento

Cerrado pode ficar sem monitoramento de desmate do Inpe

Verbas garantem programas só até abril e não há soluções no horizonte

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São Paulo

O monitoramento de desmatamento no cerrado pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) pode acabar em 2022, caso uma nova fonte de verbas não seja encontrada. Há recursos somente para continuidade dos trabalhos pelos próximos três ou quatro meses.

No último dia de 2021, o Inpe divulgou os elevados dados de desmatamento no cerrado, savana mais biodiversa do planeta e que possui grande importância para o país, principalmente ao se considerar o papel de produtor de água do bioma, alimentando diversas bacias hidrográficas.

O cerrado perdeu 8.531 km² de agosto de 2020 até julho de 2021, segundo dados do Prodes cerrado —maior valor desde 2015— e 7.900 km² no ano anterior.

Árvore derrubada ao centro da foto, cercada por área plana, sem vegetação
Área de cerrado desmatada para o plantio de soja no entorno da bacia do rio dos Couros na Chapada dos Veadeiros - Lalo de Almeida/Folhapress

O Prodes e o Deter são os programas do Inpe que acompanham o desmate no bioma.

Ambos os projetos não fazem parte do orçamento da União e, por isso, dependem de recursos extra-orçamentários. O programa de monitoramento já recebeu recursos alemães e do Ministério do Meio Ambiente, para o período de estruturação e construção dos mapas.

Desde 2016, o monitoramento é sustentado com recursos do FIP (Programa de Investimento Florestal), com gestão do Banco Mundial e apoio do MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações). O problema é que a fonte de verbas tinha um prazo: 2020. A validade do financiamento, porém, acabou estendida até dezembro de 2021.

Agora, passado 2021, ainda é incerto como o monitoramento terá continuidade. Segundo a Folha apurou, há expectativa na equipe de monitoramento de que algum recurso apareça para manter ao menos parte dos programas ativos.

Também já há movimentação no Inpe em busca de verbas.

A Folha questionou o Inpe, o Ministério do Meio Ambiente e o MCTI sobre a situação e possíveis soluções. Não houve resposta até a publicação desta reportagem.

A paralisação do monitoramento já estava no radar de pesquisadores do Inpe. Em setembro do ano passado, em uma live da Frente Parlamentar Ambientalista, Luis Maurano, cientista do Inpe, apontou que o financiamento pelo FIP só iria até o fim de 2021 e que, depois disso, não seria possível adição de mais prazo.

De junho de 2016 até o fim do ano passado, segundo Maurano, programa teria recebido cerca de US$ 4,4 milhões.

"É um projeto de baixo custo se comparado ao valor que esses dados têm para o mercado, mas não temos investimento", afirmou ao portal G1 Cláudio Almeida, coordenador do programa de monitoramento da Amazônia e demais biomas. Segundo ele, seriam necessários R$ 2,5 milhões anuais para manter o monitoramento funcionando.

Para comparação, as motociatas em apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL) já custaram cerca R$ 5 milhões aos cofres públicos, segundo levantamento da Folha, valor que possibilitaria dois anos de monitoramento. Tais gastos levam em conta despesas com o cartão de pagamento do governo federal, informadas pela Secretaria-Geral da Presidência, e os gastos assumidos pelos estados para garantir a segurança da população e da comitiva de Bolsonaro.

Bolsonaro e membros do seu governo reclamam constantemente da atenção que se dá aos dados de desmatamento no Brasil. Em 2019, o presidente chegou a dizer que os dados de desmatamento na Amazônia não correspondiam à realidade e que o então diretor do Inpe, Ricardo Galvão, poderia estar a "serviço de alguma ONG".

A fala de Bolsonaro foi respondida por Galvão, que, após o caso, acabou exonerado do cargo.

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