Descrição de chapéu mudança climática

Crise do clima pode levar a extinção em massa nos oceanos

Cumprir Acordo de Paris poderia reduzir impacto das perdas, mostra estudo na Science

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São Paulo

Se a humanidade não controlar ao menos em parte a crise climática, o mundo poderá vivenciar uma extinção em massa nos oceanos, aponta uma uma pesquisa publicada na última quinta-feira (28) na revista Science.

A extinção massiva ocorreria até 2300, em uma projeção baseada no pior cenário possível calculado pelo IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança do Clima da ONU) —no qual as emissões de gases-estufa continuaram em alta, fazendo com que a temperatura média do planeta aumente até 4,8ºC até o fim do século, na comparação com a temperatura da era pré-industrial.

Pessoa com fantasia de cabeça de peixe aproxima da boca da fantasia um peixe que ela segura nas mãos
Durante a COP26, ativista protesta contra pesca em águas profundas - Andy Buchanan/AFP

Mesmo em outro cenário, com emissões um pouco mais baixas, mas ainda elevadas o suficiente para um aumento de temperatura de cerca de 3,9°C até 2100, as perdas de espécies seriam significativas nos oceanos, apontam os cientistas.

O estudo foi feito pelos pesquisadores Justin L. Penn e Curtis Deutsch, ambos das universidades Princeton e Washington (EUA). A modelagem feita por eles aponta que para evitar essa tragédia ambiental, é necessário limitar a no máximo 2ºC o aumento da temperatura.

O Acordo de Paris tem como principal limitar o aquecimento global a um patamar ainda menor, de 1,5ºC, mas até agora não conseguiu frear o aumento.

Segundo a pesquisa, mantendo o aquecimento global nesse nível, seria possível reduzir em mais de 70% a gravidade da extinção que ameaça os oceanos.

Os pesquisadores apontam que as cinco grandes extinções da história terrestre ocorreram em associação com mudanças ambientais na Terra, mas nenhuma delas teve ligação com a ação humana. A maior delas, foi a do Permiano-Triássico, conhecida como "Great Dying" (algo como "a grande morte"), na qual mais de dois terços dos gêneros de animais marinhos desapareceram. Entre as semelhanças dessa massiva extinção e a de agora estão o aumento da temperatura das águas e a menor concentração de gás oxigênio (O2) nelas.

Em 2021, as temperaturas dos oceanos foram as mais elevadas desde o início dos registros históricos, enquanto a quantidade de gás oxigênio disponível nelas foi provavelmente a mais baixa.

Considerando extinções locais, os pesquisadores afirmam que os riscos aumentam em locais em que espécies marinhas estão próximas de seus limites ecofisiológicos, o que normalmente ocorre conforme se aproxima da linha do Equador, com águas mais quentes e/ou menor nível de O2 no mar.

O modelo feito pelos pesquisadores aponta uma certa sobreposição entre os locais com maior riqueza biológica no oceano e as áreas com as maiores taxas de extinção local. Mas, ao mesmo tempo, parte das espécies que vivem nessas águas mais quentes podem conseguir migrar para mares em latitudes mais altas —antes mais frios e futuramente mais quentes— e encontrar um novo habitat. Já as espécies polares, sem chances em oceanos mais quentes, podem acabar extintas em todo o planeta.

Além das perdas na biodiversidade, a extinção de espécies marinhas também afeta a pesca. Algumas das áreas mais vulneráveis têm elevados índices de produtividade dessa atividade, como o Pacífico Norte e a região Indo-Pacífica.

O quadro real pode ser ainda pior que o traçado pelos pesquisadores. Isso porque o estudo leva em conta apenas temperatura e O2 disponível, mas a mudança climática afeta os oceanos de outros modos graves, como com a acidificação dos mares. Isso sem contar situações mais locais, como poluição e sobrepesca.

Em um comentário sobre o estudo, na mesma Science, Malin L. Pinsky e Alexa Fredston, também pesquisadores dos EUA, afirmam que felizmente, as emissões de gases não estão no caminho do pior cenário possível, considerando as políticas para limitar as emissões e o menor crescimento das economias globais.

"Exatamente onde, entre o melhor e o pior cenário, estará o futuro, será determinado pelas escolhas que a sociedade fizer não somente a respeito da mudança climática, mas também sobre destruição de habitats, sobrepesca e poluição costeira", afirmam Pinsky e Fredston.

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