Descrição de chapéu The New York Times

Ursos polares podem sobreviver com menos gelo marinho, dizem pesquisadores

Riscos aos ursos polares no Ártico diminuirão se forem reduzidas as emissões de gases do efeito estufa para conter o aquecimento global

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Henry Fountain

Cientistas identificaram uma subpopulação distinta de ursos polares no sudeste da Groenlândia que, numa área com pouco gelo marinho, sobrevivem caçando no gelo que se desprende das geleiras.

A descoberta sugere como um número reduzido de ursos poderá sobreviver com o contínuo aquecimento do planeta e o derretimento do gelo marinho do qual eles normalmente dependem.

Pesquisadores e outros especialistas alertaram que riscos graves para a população de ursos polares no Ártico permanecem e só serão reduzidos com a redução das emissões de gases do efeito estufa para conter o aquecimento global.

Urso polar no Ártico - AFP

A subpopulação, calculada em várias centenas de animais, foi identificada durante um estudo de vários anos do que se pensava ser uma única população de ursos ao longo da costa leste da Groenlândia, com 2.880 quilômetros.

Por meio de análise de movimentos rastreados por satélite, amostras de tecidos e outros dados, descobriu-se que os ursos do sudeste estavam isolados, física e geneticamente, dos outros.

"Foi uma descoberta totalmente inesperada", disse Kristin Laidre, bióloga da Universidade de Washington, que estuda ecologia de mamíferos marinhos na Groenlândia há duas décadas. Laidre é a principal autora de um artigo sobre a subpopulação de ursos publicado na quinta-feira (16), na revista Science.

O sudeste da Groenlândia é especialmente remoto, com fiordes estreitos cercados por montanhas íngremes. Na extremidade interior há frequentemente geleiras que terminam na água; na outra está o mar aberto, com uma forte corrente sul.

"Esses ursos estão muito isolados geograficamente", disse Laidre. "Eles realmente evoluíram para serem residentes porque essa é a única maneira de viver naquela área."

Os pesquisadores estimaram que essa subpopulação esteja isolada há pelo menos alguns séculos.

De modo geral, existem cerca de 26 mil ursos polares no Ártico, em 19 subpopulações oficialmente designadas. Os animais vivem no gelo marinho sazonal, caçando suas presas primárias, as focas, enquanto estas tomam sol sobre o gelo ou sobem na água para respirar por buracos na superfície congelada. Mas o rápido aquecimento do Ártico ligado às emissões de gases do efeito estufa causadas pelo homem reduziu a extensão e a duração da cobertura de gelo marinho.

Algumas subpopulações, principalmente uma no sul do mar de Beaufort, ao largo do Alasca e do Canadá, já estão em declínio porque o gelo não persiste por tempo suficiente para que os ursos cacem para eles e seus filhotes se alimentarem.

Especialistas em ursos polares dizem que, se o planeta continuar se aquecendo, eles poderão ser extintos até o final deste século.

O sudeste da Groenlândia é relativamente quente, e os fiordes têm menos cobertura de gelo marinho do que muitas outras áreas com ursos polares —em média, há gelo suficiente para eles viverem e caçarem cerca de cem dias por ano.

"Sabemos que isso é muito pouco para um urso polar sobreviver", disse Laidre. Esses são os tipos de condições que podem se espalhar por outras partes do Ártico até o final deste século.

Laidre e seus colegas descobriram que os ursos do sudeste da Groenlândia caçam no gelo marinho enquanto ele existe. Mas quando acaba os ursos têm outro ambiente para caçar: o gelo de água doce que se desprende das geleiras para os fiordes, como icebergs e pedaços progressivamente menores, e que persistem durante a maior parte do ano.

Os ursos caçam nessa mistura flutuante de gelo, chamada "ice mélange", da mesma forma que caçam no gelo marinho. "Isso lhes dá uma plataforma de gelo extra e incomum que ursos em muitos outros lugares não têm", disse Laidre, permitindo que eles capturem focas suficientes para eles e seus filhotes sobreviverem e se reproduzirem.

Mas habitats como esse são raros, disse Twila Moon, cientista do Centro Nacional de Dados de Neve e Gelo em Boulder, no Colorado, que analisou o gelo marinho e a cobertura de gelo glacial nos fiordes como parte da pesquisa.

"Existem locais limitados no Ártico onde vemos uma produção substancial e consistente de mistura glacial", disse Moon. Além de algumas áreas na Groenlândia, o arquipélago norueguês de Svalbard possui geleiras que terminam na água.

Portanto, embora essas condições especiais possam permitir que alguns ursos sobrevivam à medida que o gelo marinho encolhe, em geral os animais continuarão sendo ameaçados pelas mudanças climáticas.

"Esperamos ver grandes declínios [das populações] de ursos polares no Ártico sob as atuais trajetórias de aquecimento", disse Laidre. "E este estudo não muda isso."

Steven Amstrup, cientista-chefe do grupo de conservação Polar Bears International, que não participou da pesquisa, disse que o estudo foi "realmente completo" e "aponta para um grupo muito específico de ursos".
Caberá a um grupo de especialistas, sob os auspícios da União Internacional para a Conservação da Natureza, decidir se ele constitui uma 20ª subpopulação oficial.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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