Descrição de chapéu mudança climática

Furacões extremos mostram que tempo de negação das mudanças climáticas acabou, diz Vaticano

Inundações apocalípticas e megassecas se tornaram o novo normal, segundo o cardeal Michael Czerny

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Philip Pullella
Cidade do Vaticano | Reuters

Recentes eventos climáticos extremos, como o furacão que devastou partes da Flórida, nos Estados Unidos, mostram que o tempo de negação e ceticismo sobre as mudanças climáticas acabou, disse uma autoridade do Vaticano nesta terça-feira (4).

O cardeal canadense Michael Czerny, que chefia o escritório de desenvolvimento do Vaticano, fez seus comentários em uma entrevista coletiva ao apresentar "A Carta", um novo filme sobre a crise climática de Nicolas Brown, duas vezes vencedor do Emmy.

Retrato do Cardeal Michael Czerny, um homem careca e de óculos, usando uma batina verde.
Cardeal Michael Czerny em missa do Papa Francisco para abrir o sínodo de três semanas dos bispos da Amazônia, no Vaticano, em 2019 - Remo Casilli - 6.out.2019/Reuters

O filme leva o título da encíclica do papa Francisco de 2015, "Laudato Si" (Louvado seja), sobre a defesa do meio ambiente. Ele estreou no Vaticano na terça e estará disponível gratuitamente no YouTube Originals. Neste 4 de outubro, a Igreja Católica festeja são Francisco de Assis, padroeiro dos animais e do meio ambiente.

"Acabou o tempo da especulação, do ceticismo e da negação, do populismo irresponsável", disse Czerny.

"Inundações apocalípticas, megassecas, ondas de calor desastrosas e ciclones e furacões catastróficos tornaram-se o novo normal nos últimos anos; eles continuam hoje; amanhã serão piores", disse ele.

Na semana passada, o furacão Ian, uma das tempestades mais violentas a atingir os Estados Unidos, matou mais de cem pessoas e devastou dezenas de milhares de propriedades.

Na época em que a encíclica papal foi publicada, alguns católicos aliados a movimentos políticos conservadores e interesses corporativos criticaram o papa por apoiar a opinião da maioria dos cientistas que diziam que o aquecimento global se devia pelo menos em parte à atividade humana.

Francisco, 85, apoia fortemente as metas do Acordo de Paris de 2015 da ONU para reduzir o aquecimento global e o uso de combustíveis fósseis. O ex-presidente Donald Trump retirou os Estados Unidos do acordo, mas seu sucessor, Joe Biden, voltou a ele.

Hoesung Lee, economista sul-coreano que preside o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC na sigla em inglês), disse na entrevista coletiva que "as apostas nunca foram tão altas" na necessidade de conter o aquecimento global.

"A avaliação do IPCC aponta claramente que os impactos e riscos climáticos estão se tornando cada vez mais complexos e mais difíceis de gerir, e que a ação acelerada e equitativa na mitigação e adaptação às mudanças climáticas é fundamental para o desenvolvimento sustentável", disse Lee.

"Tanto a comunidade científica quanto a religiosa são muito claras. O planeta está em crise e seus sistemas de suporte à vida estão em perigo", afirmou.

Czerny disse que a perturbação climática descontrolada e a degradação ambiental levariam à perda de vidas e meios de subsistência, deslocamento forçado e conflitos violentos.

O filme, que inclui conversas com o papa, aborda as mudanças climáticas pelos olhos de um líder indígena da Amazônia, jovens, pobres e pesquisadores que estudam seus efeitos nos recifes de coral.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves 

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