Descrição de chapéu Planeta em Transe yanomami

Território yanomami lidera ranking de pistas de pouso na Amazônia, aponta levantamento

Análise do Mapbiomas motra que um terço delas fica a até 5 km de algum garimpo

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São Paulo

O território yanomami, em Roraima, é cortado por 75 pistas de pouso, o maior número entre as terras indígenas (TIs) da Amazônia. O dado faz parte de um levantamento feito pelo Mapbiomas, que apontou que um terço delas (33,7%) está a 5 km ou menos de algum garimpo.

No ranking das TIs com mais pistas de pouso, a Raposa Serra do Sol, também em Roraima, ficou em segundo lugar, com 58, seguida de Kayapó (26), Munduruku (21), ambas no Pará, e o Parque do Xingu (21), no Mato Grosso.

Na TI Munduruku, a relação de proximidade com a mineração ilegal aumenta: 80% das estruturas estão a 5 km ou menos de distância de algum garimpo.

O levantamento foi realizado com base na análise de dados de satélite de alta resolução.

Imagem mostra floresta amazônica densa, em verde escuro, cortada por uma pista de pouso marrom claro, de terra batida, ao lado de uma operação de garimpo
Pista de pouso ao lado de garimpo clandestino na região do rio Rato, afluente do Tapajós, em Itaituba (PA) - Lalo de Almeida - 19.ago.2018/Folhapress

Ao todo, o MapBiomas identificou 2.869 pistas na Amazônia, sem distinção entre autorizadas ou não autorizadas. O número, no entanto, é mais do que o dobro das que constam nos registros da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Deste total, 28% (804 pistas) estão dentro de alguma área protegida: 320 ficam em terras indígenas e 498 no interior de unidades de conservação.

O geólogo Cesar Diniz, coordenador técnico do mapeamento da mineração no MapBiomas, afirma que a correlação destes números com o avanço do garimpo na região é inequívoca. "Das 5 TIs que mais têm pistas de pouso, 3 são as que também têm mais área garimpada: Kayapó, Munduruku e Yanomami."

Outro estudo do Mapbiomas aponta que, até 2021, no território kayapó 11.542 hectares foram tomados pelo garimpo. Na terra munduruku, esse número chega a 4.743 hectares e, na yanomami, a 1.556 hectares.

No caso das Unidades de Conservação, o maior número de pistas de pouso está na APA do Tapajós (156 pistas), seguida pela Flona do Amaná (53), a APA Triunfo do Xingu (47) e a Floresta Estadual do Paru (30).

Diniz explica que, historicamente, pistas eram instaladas em áreas de floresta protegidas para facilitar a chegada de socorro e serviços de saúde às comunidades que vivem nessas regiões, mas que a natureza dessa infraestrutura mudou.

"É razoável que algumas pistas existam dentro de TIs e UCs. O que não é razoável é que uma quantia tão grande delas esteja perto de garimpos. Fica claro que o objetivo delas deixa de ser social e passa a ser para servir ao garimpo ilegal", diz.

Os estados amazônicos líderes no ranking de pistas de pouso são Mato Grosso, com 1.062 pistas, Pará, com 883, e Roraima, com 218. O Pará também abriga as quatro cidades com mais pistas: Itaituba (255), São Félix Do Xingu (86), Altamira (83) e Jacareacanga (53).

"Os municípios com maior número de pistas de pouso –não coincidentemente– também têm uma relação histórica com o garimpo", aponta o pesquisador.

Como essas atividades são instaladas em regiões de difícil acesso terrestre ou fluvial, o transporte aéreo é muito importante para a logística. Ao mesmo tempo, abrir uma pista de pouso no meio da floresta não é uma tarefa fácil ou barata.

"Você não faz uma pista de pouso se o seu interesse é ir embora daquela região em três dias. Essa infraestrutura indica uma vontade de continuar fazendo viagens constantes naquela região", ressalta Diniz. "Localizar essas pistas é um instrumento importante para o estrangulamento do garimpo já que é por elas que entram os equipamentos para operar essa atividade e é por elas que a produção sai dali."

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