Incêndios em florestas boreais liberam níveis recordes de carbono, mostra estudo

Negligenciadas, queimadas no norte do globo podem ser uma 'bomba-relógio', alertam pesquisadores

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Clive Cookson
Financial Times

Incêndios nas florestas boreais que circundam as latitudes mais no norte do globo estão emitindo quantidades cada vez maiores de dióxido de carbono (CO₂), segundo um estudo internacional que usou nova tecnologia de satélite.

A queima de florestas boreais na Eurásia e na América do Norte em 2021 liberou um recorde de 1,76 bilhão de toneladas de CO₂ —representando 23% de todas as emissões mundiais de CO₂ provenientes de incêndios. As emissões globais de CO₂ relacionadas à energia atingiram um recorde de quase 37 bilhões de toneladas no mesmo ano.

"As florestas boreais podem ser uma bomba-relógio de carbono, e os recentes aumentos das emissões de incêndios florestais me preocupam que o tempo esteja terminando", disse Steven Davis, da Universidade da Califórnia em Irvine e coautor do estudo, divulgado no encontro anual da Associação Americana para o Progresso da Ciência em Washington e publicado na revista Science.

Fumaça subindo de árvores em imagem aérea
Incêndio em floresta perto do vilarejo de Berdigestyakh, na Sibéria - Dimitar Dilkoff - 27.jul.2021/AFP

Os pesquisadores, liderados por cientistas da Universidade de Tsinghua, na China, disseram que, embora os incêndios nas florestas tropicais tenham atraído muita atenção, em consequência do desmatamento, as florestas boreais foram relativamente negligenciadas.

Isso ocorreu apesar de ser um dos biomas mais extensos e importantes da Terra e estar ameaçado pelo aquecimento que está ocorrendo muito mais rápido na região do Ártico do que no resto do planeta.

Medir as emissões de incêndios é essencial para modelar as mudanças climáticas. Mas é difícil apontar a contribuição de novas fontes de carbono diretamente quando a atmosfera já contém tanto CO₂ de vida longa. Em vez disso, os pesquisadores recorreram a um método indireto.

Como substituto, eles monitoraram o monóxido de carbono gerado pelos incêndios, que não dura mais que algumas semanas na atmosfera antes de ser oxidado e virar CO₂.

A análise utilizou dados de um instrumento do satélite de observação da Terra da Nasa, o Mopitt (medições de poluição na troposfera), que possui uma série contínua de registros desde 2000.

Os resultados corroboram outras evidências de que os incêndios se expandiram nas últimas duas décadas nas florestas boreais, que consistem principalmente de coníferas com algumas bétulas e choupos. As emissões desses incêndios aumentaram rapidamente em 2021, ano de seca severa e ondas de calor que continuaram em 2022, embora os dados do último ano ainda não estejam disponíveis.

Grande cortina de fumaça ao fundo, com um carro de polícia estacionado à frente e dois homens, de pé, conversando perto do carro
Fumaça de incêndio florestal em Fort McMurray, no Canadá, em maio de 2016 - Alberta RCMP - 7.mai.2016/RCMP Alberta/AFP

Nos últimos dez anos, os incêndios florestais nas regiões boreais aumentaram mais rapidamente do que nas florestas tropicais, em parte refletindo o fato de que as temperaturas médias estão subindo mais rapidamente no norte do planeta do que perto do Equador, conforme a camada reflexiva de neve e gelo se derrete com o aquecimento global.

A pesquisa também confirma o feedback entre as mudanças climáticas e os incêndios florestais.

As crescentes emissões de CO₂ dos incêndios "representam uma ameaça cada vez maior ao clima, uma vez que parte das emissões pode não retornar à vegetação e aos solos", dizem os cientistas, "porque as árvores não crescem tão bem em condições mais quentes e secas".

Embora o novo estudo tenha usado dados de satélite, "também precisamos de medições no solo para monitorar incêndios florestais", disse Philippe Ciais, coautor da Universidade de Paris-Saclay.

Mas a ruptura das relações científicas com a Rússia –detentora da maior área boreal do mundo– após a invasão da Ucrânia "é um verdadeiro problema para o nosso entendimento", disse Ciais. "Vamos perder vários anos antes de obtermos oficialmente os dados de que precisamos para as regiões boreais da Rússia e da Sibéria".

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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