Descrição de chapéu yanomami indígenas

Rios em terra yanomami apresentam cor melhor após cinco meses de operação contra garimpo; veja fotos

Imagens de satélite mostram diferença de coloração das águas sem atividade de exploração ilegal

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Boa Vista

Os rios da Terra Indígena Yanomami apresentam mudança de coloração após quase cinco meses da operação do governo federal contra o garimpo ilegal na região.

Imagens de satélite da Polícia Federal e das Forças Armadas mostram como as águas de rios como o Uraricoera estão mais escuros em comparação ao marrom-barro predominante das imagens do início do ano.

A coloração mais clara é causada justamente pela atividade do garimpo, que perfura os fundos dos rios e deixa a água lamacenta.

Vista aérea da Terra Indígena Yanomami, em Roraima
Terra Indígena Yanomami, em Roraima, fotografada nesta terça (27) - Ueslei Marcelino/Reuters

Além disso, a atividade de extração ilegal do minério também contamina as águas com mercúrio, que é usado para facilitar na separação do ouro da terra.

O general Costa Neves, comandante do Comando Militar da Amazônia, afirma que o estrangulamento do garimpo é uma conquista para a terra indígena voltar à normalidade. "Nossa inteligência vai produzir dados que vão ajudar as agências a planejar as suas atividades e suas missões, para garantir a preservação do meio ambiente", diz.

O Ibama (Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais e Renováveis) afirmou que iniciará, a partir do segundo semestre, estudos de campo para mensuração dos níveis de mercúrio nas águas e ações de recuperação da fauna e da flora.

"A partir do segundo semestre, vamos fazer ações para também diagnosticar como fazer as medidas mitigatórias para promover a recuperação ambiental", conta Diego Bueno, superintendente substituto do Ibama em Roraima.

"É sabido que crateras de 20, 30 metros de profundidade e com até 3 hectares de tamanho [como as de garimpo] são de difícil recuperação, mas a natureza, se a gente deixá-la agir, com o tempo, ela tende a se recuperar", completa.

Rio Uraricoera, na TI Yanomami

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Imagem de satélite do rio Uraricoera na terra indígena Yanomami em janeiro de 2023 mostra o rio Uraricoera com cor marrom claro, causada pelo barro dos garimpos
Imagem de satélite do rio Uraricoera na terra indígena Yanomami em janeiro de 2023 mostra o rio Uraricoera com cor marrom escuro, que indica a recuperação das águas com o combate ao garimpo

Fotos de janeiro (à esq.) e junho de 2023 mostram melhora na cor da água do rio após operação contra garimpo ilegal - Divulgação/Forças Armadas

Para Bueno, é importante criar programas para tentar evitar que os animais, as plantas e até os seres humanos se contaminem com o mercúrio já despejado nos rios do território.

"O mercúrio já foi derramado, ele já existe na água. Mesmo que o garimpo acabe, ainda pode ter contaminação ao longo do tempo", ressalta.

O mercúrio, metal extremamente tóxico, é uma fonte inesgotável de problemas para os seres vivos. Volátil, o elemento pode contaminar ecossistemas aquáticos e terrestres —e retirá-lo de qualquer local é tarefa árdua.

Presente no combalido território yanomami em razão do garimpo, que, além de propagar doenças, impossibilita o uso de solo e rios para agricultura e pesca, o mercúrio se espalha pela corrente sanguínea dos seres humanos, causando falência de órgãos e complicações no sistema nervoso central.

Garimpo Rangel, na TI Yanomami

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Imagem de satélite de um garimpo na terra indígena Yanomami mostrado a destruição da floresta, em janeiro de 2023
Imagem de satélite de um garimpo na terra indígena Yanomami mostrado a recuperação da floresta, em janeiro de 2023

Comparação entre imagens de janeiro (à esq.) e junho mostra recuperação da floresta no entorno de garimpo desativado - Divulgação/Forças Armadas

A operação na Terra Indígena Yanomami começou no início de fevereiro, após o presidente Lula (PT) visitar a região e o Ministério da Saúde decretar estado de emergência sanitária.

O garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami quase triplicou em 2022 na comparação com 2020 —quando teve início o monitoramento feito pela Polícia Federal na região.

Segundo a PF, o garimpo ocupava 14 km² do território em 2020, passou para 23,7 km² em 2021 e para 41,8 km² em 2022 —um crescimento de 76% em um ano e de 198% desde o início do monitoramento.

As ações de repressão são encabeçadas, sobretudo, pela Polícia Federal e pelo Ibama, com auxílio da PRF (Polícia Rodoviária Federal) e da Força Nacional.

Neste mês, o governo Lula publicou um decreto que autoriza as Forças Armadas a também atuar em atividades de combate à atividade ilícita.

Até então, os militares prestavam ajuda humanitária, com distribuição de cestas básicas e de insumos (como medicamentos e combustível), logística (transporte de tropas e planejamento) e inteligência (por exemplo, com uma aeronave com capacidade de fotografar os garimpos).

A intenção agora é, junto com outros órgãos que atuam na área, ocupar o território yanomami com novas bases e com equipes passando dias na floresta.

Pessoas envolvidas nas ações afirmam, sob anonimato, que o perfil de atuação dos garimpeiros se adaptou, com trabalho noturno, acampamentos dentro da mata e até com equipamentos ficando enterrados durante o dia para dificultar a fiscalização.

Segundo essas pessoas, os garimpeiros se entocaram em pontos que ficam até cinco quilômetros dentro da mata e também estão nas regiões mais próximas da fronteira com a Venezuela.

Segundo balanço das Forças Armadas, há 1.200 militares —entre Marinha, Força Aérea e Exército— em ação no território. Já foram entregues quase 24 mil cestas básicas e feitos mais de mil lançamentos delas por aeronaves.

Segundo as forças de segurança, resta menos de 10% do garimpo antes existente na Terra Indígena Yanomami. O general Costa Neves afirmou ainda que os voos clandestinos na região caíram em 90%.

Já foram apreendidas mais de 40 toneladas de cassiterita, cerca de 1.700 quilos de ouro e quase 9.000 litros de combustível. O valor do total de objetos apreendidos ultrapassa os R$ 30 milhões.

A Folha viajou a convite das Forças Armadas.

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