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A morte chocante de milhares de bebês pinguins por gelo derretido na Antártida

Número enorme de filhotes de pinguim-imperador se afogou porque o gelo marinho derreteu

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Jonathan Amos - BBC News

Estima-se que até 10 mil filhotes de pinguim-imperador tenham morrido de maneira catastrófica na Antártida no fim de 2022.

O bloco de gelo marinho sob estes filhotes derreteu e se rompeu antes que eles pudessem desenvolver penas impermeáveis, necessárias para que a espécie consiga nadar no mar.

As aves provavelmente morreram afogadas ou congeladas.

Dezenas de pinguins no gelo
As penas dos filhotes de pinguins imperadores não são à prova d'água; eles precisam trocar de penas antes que o gelo se quebre - Getty Images via BBC

Registrado por satélites, o evento ocorreu no oeste do continente, em uma área de frente para o Mar de Bellingshausen.

Peter Fretwell, do instituto de pesquisa British Antarctic Survey (BAS), diz que as mortes em massa foram um prenúncio do que está por vir.

Perdas na colônia - BBC

A previsão é de que mais de 90% das colônias de pinguins-imperadores estarão extintas até ao final do século, à medida que o gelo marinho sazonal do continente antártico encolhe em um planeta cada vez mais quente.

"Os pinguins-imperadores dependem do gelo marinho para o seu ciclo reprodutivo, que forma a plataforma estável que eles usam para criar os seus filhotes. Mas se esse bloco de gelo não for tão extenso como deveria ser ou se quebrar mais rapidamente, estas aves estarão em risco", diz o cientista à BBC.

"Há esperança: podemos reduzir as nossas emissões de carbono que causam o aquecimento. Se não o fizermos, vamos levar essas belas e icônicas aves à beira da extinção."

Gelo marinho em falta em área-chave - BBC

Fretwell e seus colegas registraram a morte na revista científica Communications Earth & Environment.

Os cientistas rastrearam cinco colônias na região do Mar de Bellingshausen - Ilha Rothschild, Verdi Inlet, Ilha Smyley, Península Bryan e Pfrogner Point.

Por meio de satélites, eles conseguiram observar a atividade dos pinguins a partir dos excrementos que eles deixam no gelo marinho.

A marca de coloração marrom é visível até mesmo do espaço.

As aves adultas mergulham no gelo marinho por volta de março, à medida que o inverno no Hemisfério Sul se aproxima. Eles copulam, põem ovos, chocam esses ovos e depois alimentam seus filhotes durante os meses seguintes, até chegar a hora de os filhotes seguirem em frente por conta própria.

Isso acontece normalmente por volta de dezembro/janeiro, quando as novas aves se dirigem para o oceano.

Mas a equipe de cientistas observou como o gelo marinho sob as colônias de pinguins-imperadores se fragmentou em novembro, antes de milhares de filhotes terem tido tempo de trocar as penas pelas necessárias para nadar.

Como resultado, quatro das colônias sofreram fracasso reprodutivo total. Apenas a que fica mais ao norte, na Ilha Rothschild, teve algum sucesso.

O gelo marinho do verão antártico tem sofrido uma queda acentuada desde 2016, com a área total de água congelada em todo o continente diminuindo para novos recordes mínimos.

Os dois piores anos em termos absolutos ocorreram nas duas últimas temporadas de verão, em 2021/22 e em 2022/23, quando o mar de Bellingshausen ficou quase completamente desprovido de cobertura de gelo.

Além disso, a lentidão na formação de blocos de gelo nos últimos meses significa que as colônias provavelmente não gerarão bebês por pelo menos mais um ano.

A extensão máxima do gelo marinho no inverno, normalmente atingida em setembro, vai ficar muito abaixo de onde normalmente estaria.

Cientistas acreditam que o número de pinguins-imperador encolherá drasticamente até o fim do século - Getty Images via BBC

Fretwell e seus colegas disseram que os pinguins-imperadores estão sentindo os impactos desta mudança em seu habitat.

Entre 2018 e 2022, cerca de um terço das mais de 60 colônias conhecidas de pinguins-imperadores foram afetadas de alguma forma pela diminuição da extensão do gelo marinho - seja pela formação de gelo no final da temporada ou pela quebra mais cedo.

No outro extremo do planeta, no Ártico, o gelo marinho está em declínio constante há décadas. A Antártica, em contraste, parecia mais robusta. Até 2016, sua área vinha se tornando um pouco mais extensa ano após ano.

Caroline Holmes, especialista em gelo marinho da Antártida, liga as causas do atual declínio à água oceânica extraordinariamente quente em todo o continente e a um padrão particular de ventos que, no caso do mar de Bellingshausen, empurrou o gelo de volta para a costa, dificultando a sua propagação.

Extensão de gelo marinho abaixo do normal - BBC

"O que estamos vendo agora é muito diferente do que observamos anteriormente. Esperávamos mudanças, mas não tantas, nem tão rapidamente", diz ela à BBC.

"Estudos no Ártico sugeriram que, se pudéssemos reverter o aquecimento climático de alguma forma, o gelo marinho no polo norte se recuperaria. Se isso também se aplica à Antártida, ainda não sabemos. Mas rudo leva a crer que isso também se aplicaria à Antártica: se esfriar o suficiente, o gelo marinho se reformará."

Atualmente, os pinguins-imperadores são classificados como "quase ameaçados" pela International Union for Conservation of Nature (IUCN), uma organização que cria as listas dos animais mais ameaçados da Terra.

Uma proposta foi feita para elevar os pinguins-imperadores à categoria mais urgente de "vulneráveis" devido ao perigo que o aquecimento global representa para seu ciclo de vida.

Este texto foi publicado originalmente aqui.

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