Incêndios florestais deixam cidade mais populosa da Bolívia coberta de fumaça

Prática de queima para agricultura em meio à seca intensa agrava poluição em Santa Cruz; escolas suspenderam aulas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

José Arturo Cárdenas Miguel Surubí
AFP

O fogo ronda Santa Cruz. Os incêndios florestais, agravados pela seca, esvaziaram as escolas e trouxeram as máscaras de volta. A fumaça mergulhou em cinzas a cidade mais populosa e rica da Bolívia.

Com uma extensão de 325,6 km2 e 1,9 milhão de habitantes, Santa Cruz parece desfigurada pelo calor, pelas chamas e pela fumaça.

"Dá tristeza porque agora [a cidade] está ficando na escuridão pela fumaça. Não se pode ver além de um quarteirão", diz Luis Surubi, um segurança de 40 anos.

Centenas de bombeiros, com a ajuda de helicópteros, tentam aplacar o fogo que devora o verde que rodeia a capital econômica do país.

Vista aérea da cidade coberta por fumaça densa cinza
Fumaça na cidade de Santa Cruz, na Bolívia, na última quarta (25); incêndios florestais levaram a suspensão de atividades de escolas - Rodrigo Urzagasti/AFP

Este ano "a queima [de floresta] está ocorrendo indiscriminadamente", aponta Mauricio Montero, aposentado de 57 anos. Estamos "sem árvores e sem chuva", lamenta.

Apesar de ser proibida por lei, a queima de florestas e pastagens com fins agrícolas é uma prática comum na Bolívia nesta época do ano. Os agricultores preparam a terra para a semeadura dessa forma.

A seca intensa, que castiga 7 dos 9 departamentos (estados) bolivianos —alguns deles em estado de emergência— piorou a situação.

"Esta semana, tivemos altas temperaturas. A máxima alcançada foi de 40,2°C em Santa Cruz", aponta a meteorologista Cristina Chirinos.

Segundo a especialista, foram os dias mais quentes deste século, superando o recorde de 38°C de 2004.

Sem aulas

Esta semana, em consequência da poluição causada pela fumaça, o governo suspendeu as atividades educacionais em várias cidades da Bolívia, e a medida pode ser estendida nos próximos dias.

No total, são 3.650 unidades educacionais afetadas ou que suspenderam as aulas em razão da poluição, disse, em entrevista coletiva, o ministro da Educação, Edgar Pary. O número representa 15% das escolas de todo o país, e a maior parte dessas unidades prejudicadas fica em Santa Cruz.

Tivemos que cancelar as aulas "para preservar a saúde dos estudantes" e a nossa "como autoridades", disse Danny Ardaya, diretora da unidade educacional Lucas Casaert.

Na ruas, o movimento ficou reduzido, e as máscaras da época da pandemia estão de volta.

"As crianças não podem fazer atividades físicas (...) pois não há nada além de fumaça. Os idosos que saíam para fazer suas caminhadas, os que têm doenças, não podem mais fazer. Até os animais de estimação estão sendo prejudicados pela fumaça", diz Luis Surubi.

Disparar contra as nuvens

Segundo o vice-ministro de Defesa Civil, Juan Carlos Calvimontes, pouco mais de mil bombeiros combatem o fogo em vários pontos do país.

Quatro helicópteros das Forças Armadas, com o sistema "bambi bucket" (que ajuda a levar água até os locais com chamas), apoiam os trabalhos dos brigadistas em Santa Cruz e no norte de La Paz.

Em Cochabamba, um dos departamentos mais afetados pela seca, os militares chegaram até mesmo a habilitar um avião Hércules C-130 para disparo de um composto de iodeto de prata, com o objetivo de estimular a chuva.

"Foi realizado com sucesso o estímulo de nuvens com o lançamento de cartuchos de iodeto de prata", disse o presidente Luis Arce.

Somente este ano, já foram queimados na Bolívia 2.012.252 hectares, 23% de florestas e o restante em pastagens e savanas. Esse número, segundo as autoridades, está abaixo de registros passados.

O fogo alcançou reservas naturais, como a do Madidi em La Paz, de quase 19 mil km2, e a do Amboró, em Santa Cruz, de 6.360 km2.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.