Descrição de chapéu Planeta em Transe desmatamento

Desmatamento no cerrado triplica em outubro e cai pela metade na amazônia

Tocantins responde por 29% da área perdida no cerrado no mês, enquanto Pará concentra 48% do desmate amazônico

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São Paulo

Pela quarta vez neste ano, os números mensais de desmatamento no cerrado bateram o recorde da série histórica do sistema Deter, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). A área perdida no bioma em outubro chegou a 683,2 km² —o equivalente a duas vezes a da cidade de Belo Horizonte (331 km²) e 203% acima do registrado no mês em 2022.

Simultaneamente, na amazônia houve queda de 52% no índice em relação ao ano passado, com 435 km² de floresta perdidos. A taxa é a menor para outubro da série histórica do bioma no sistema, iniciada em 2015 (os registros para o cerrado começam em 2018).

Vista aérea mostra plantação de soja em região de cerrado
Plantações de soja em região de cerrado no alto da Chapada Gaúcha (MG), no limite do Parque Nacional Grande Sertão Veredas - Lalo de Almeida - 2.dez.2021/Folhapress

Os indicadores negativos do cerrado contrastam com o sucesso obtido pelo governo Lula no combate ao desmate na Amazônia.

O Deter mapeia e emite alertas de desmate com o objetivo de orientar ações do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e outros órgãos de fiscalização. Os resultados representam um alerta precoce, mas não são o dado fechado do desmatamento.

Nesta quinta-feira (9), foram divulgados os dados de outro programa do Inpe, o Prodes, que são anuais e considerados os números oficiais do desmatamento no país.

De acordo com o Prodes, de agosto de 2022 a julho de 2023, a Amazônia teve 9.001 km² desmatados, uma redução de 22,3% na comparação com o período anterior. Essa foi a primeira vez que o desmatamento anual na região ficou abaixo de 10 mil km² desde 2018.

Com 198,6 km² de vegetação perdidos, o Tocantins respondeu por 29% da área perdida no cerrado em outubro. O estado foi seguido por Maranhão (129,3 km²), Bahia (74,5 km²) e Piauí (68,8 km²).

Juntas, as quatro unidades da federação formam a região conhecida como Matopiba, que vem se destacando nos anos recentes por ser uma nova fronteira do agronegócio, ao mesmo tempo em que concentra a porção mais conservada do bioma.

Já na amazônia, 48% do desmate em outubro ficou concentrado no Pará (211 km²). Em seguida, vêm Mato Grosso (67,6 km²) e Amazonas (42,6 km²).

Considerando o acumulado do ano até agora, o Deter registrou perda de 6.802 km² de cerrado. Em dez meses, o número já é maior do que o índice anual para o bioma desde 2018. Na floresta amazônica, 4.775,6 km² foram desmatados no mesmo período de 2023.

Ao contrário da amazônia, no cerrado o desmatamento ocorre principalmente em propriedades privadas. Um dos motivos para isso é que, segundo o Código Florestal, no bioma é possível desmatar até 80% da área deste tipo de imóvel (ou até 65% em alguns locais, quando estão em áreas de transição para a floresta amazônica). Na amazônia, o limite é de 20%.

O cerrado é o segundo maior bioma brasileiro e corresponde a quase um quarto de todo o território nacional (23,3%).

Durante o lançamento dos resultados do Prodes, a ministra do Meio Ambiente e Mudança Climática, Marina Silva, foi questionada se haveria a possibilidade de uma migração da atividade dos desmatadores do bioma amazônico para o cerrado.

Ela afirmou não ter indícios que apontem nesse sentido, mas ressaltou a permissão legal para o desmate em propriedades privadas no bioma como uma diferença para o enfrentamento à derrubada da vegetação na região.

"Você vai ter que combater o que é ilegal, que com certeza existe, mas sobretudo, [vai ter que] disputar modelo de desenvolvimento. E aí se trata de incentivos econômicos, aumento de produção por ganho de produtividade [ao invés de aumento da área cultivada]", disse. "A ciência já está mostrando que, na região do cerrado, as chuvas estão tendo um retardo de 57 dias. Isso é altamente prejudicial à atividade econômica."

A ministra também acrescentou que o Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento no Cerrado, conhecido como PPCerrado, está sendo concluído e que há uma mobilização do governo para que ele represente um pacto entre as esferas de administração federal e estadual, junto ao setor produtivo.

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