Financiamento da adaptação às mudanças climáticas encolheu 15%, diz ONU

Valores necessários ficam na faixa entre US$ 215 bilhões e US$ 387 bilhões anuais, calcula novo relatório

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AFP e Reuters

O financiamento para a adaptação climática nos países em desenvolvimento caiu 15% em 2021, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), que considera que este número mostra que a luta contra o aquecimento global está estagnada.

Apesar dos sinais claros de uma "aceleração dos riscos climáticos e do seu impacto no mundo, o déficit de financiamento para a adaptação está piorando", conclui o Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) em relatório lançado nesta quinta-feira (2).

Os valores necessários para a adaptação ficam na faixa entre US$ 215 bilhões e US$ 387 bilhões anuais.

Pessoas andam com água pela cintura em uma rua, carregando com os braços erguidos sacolas de supermercado
Moradores da região de Bago, em Mianmar, em rua alagada após chuvas fortes - Sai Aung Main - 10.out.2023/AFP

Como os fluxos públicos multilaterais e bilaterais de adaptação financeira para países em
desenvolvimento caíram para cerca de US$ 21 bilhões em 2021 —uma queda de 15%—, o documento conclui que a adaptação financeira necessária para esses países é de 10 a 18 vezes maior do que os fluxos. Essa lacuna, destaca também o documento, ficou mais de 50% maior do que a estimada anteriormente.

"As ações para proteger as pessoas e a natureza são mais urgentes do que nunca", disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, em comunicado. "No entanto, à medida que as necessidades aumentam, a ação está estagnada", afirmou também ele, para quem, além do cumprimento das promessas de financiamento feitas pelos países, é necessário um imposto extraordinário a ser cobrado das empresas de combustíveis fósseis para compensar as perdas climáticas.

Os países desenvolvidos se comprometeram em 2009 a fornecer US$ 100 bilhões por ano em financiamento climático para nações mais pobres, e a mobilização de fundos será um ponto-chave de discussão nas negociações da COP28, conferência do clima da ONU que será realizada em Dubai de 30 de novembro a 12 de dezembro.

Segundo o Pnuma, a diferença entre o montante necessário e o financiamento praticado aumentou "apesar das promessas feitas durante a COP26, em Glasgow, de duplicar o financiamento da adaptação entre 2019 e 2025", para atingir US$ 42,5 bilhões anuais, o que constitui um "precedente preocupante".

O déficit anual de financiamento apenas para a adaptação está atualmente entre US$ 194 bilhões e US$ 366 bilhões.

As medidas destinadas a reduzir a exposição e a vulnerabilidade dos países e das populações aos efeitos das mudanças climáticas foram um ponto importante do Acordo de Paris, criado para conter o aquecimento global "bem abaixo dos 2°C em relação aos níveis pré-industriais", preferencialmente em 1,5°C de aumento na temperatura.

Muitas economias em desenvolvimento, que são as menos responsáveis historicamente pelas emissões de gases de efeito de estufa, estão entre as mais expostas aos efeitos dramáticos e destrutivos do aquecimento global, como elevação do nível do mar, incêndios e secas.

"Esta incapacidade de adaptação adequada intensifica a crise climática e tem consequências enormes nos danos que provoca, especialmente para os mais vulneráveis", afirmam os autores do relatório.

"As 55 economias mais vulneráveis ao clima já sofreram mais de US$ 500 bilhões em danos nos últimos dois anos", acrescentam.

Cada bilhão de dólares gasto no combate às inundações costeiras, por exemplo, ajudaria a evitar US$ 14 bilhões em danos econômicos, segundo o Pnuma.

Para Inger Andersen, diretora-executiva do Pnuma, "o mundo deve reduzir urgentemente as emissões de gases de efeito de estufa e intensificar os esforços de adaptação para proteger as populações vulneráveis", como escreve na introdução do relatório.

Pieter Pauw, da Universidade de Tecnologia de Eindhoven, um dos autores do relatório, avalia que "os números não são tão grandes". "Se você comparar os US$ 100 bilhões [anuais prometidos pelos países] com o dinheiro que os Estados Unidos gastam com seu exército e com o que foi gasto com a Covid ou para salvar seus bancos, isso é troco", afirma.

"É hora dos países desenvolvidos se posicionarem e fornecerem mais", completa.

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