Pavilhões brasileiros na COP28 têm café nacional e até banda dedicada à crise climática

País ocupa três espaços na cúpula em Dubai: o oficial, o da Amazônia Legal e o da Confederação Nacional da Indústria

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Dubai

"Chora IPCC/ O lobby fóssil ganhou/ Nós vamos ferver/ Você bem que avisou/ Você bem que avisou." Foi com essa letra singela dedicada ao Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU, cantada em cima dos acordes de "Just a Perfect Day", de Lou Reed, que a banda Eventos Extremos se apresentou no início da noite desta terça-feira (5) no pavilhão do Brasil na COP28, em Dubai.

Apesar de pensado essencialmente para receber palestras, debates, painéis e reuniões sobre o aquecimento global, o pavilhão brasileiro na Expo City de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, busca trazer alguma leveza aos visitantes.

Com dois auditórios e seis salas de reunião, o espaço de 410 m2 tem recebido cerca de mil pessoas por dia, segundo conta Jorge Viana, presidente da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos).

"Desta vez, nós unimos o governo, a sociedade civil, os setores produtivos e startups num ambiente só. E com a ambientação ficou um espaço leve", disse ele à Folha nesta terça. Durante o governo Bolsonaro (PL), a sociedade civil montou um estande próprio nas COPs, que foi aposentado neste ano.

Além de plantas espalhadas pelo local, a ambientação pode ser vista no pulso dos visitantes. Cinco mil fitinhas do Senhor do Bonfim foram trazidas da Bahia, e a equipe do pavilhão orienta os estrangeiros a dar três nós e fazer um pedido a cada laço.

Prédio de dois andares com letreiro dizendo Brasil
Área externa do pavilhão oficial do Brasil na COP28, conferência do clima da ONU, em Dubai (Emirados Árabes Unidos) - Divulgação

E se café é servido em praticamente todos os pavilhões, no do Brasil, o produto é local. "Somos o único país que a organização permitiu a importação de café para a COP28", conta Viana, que teve a ajuda do Ministério do Meio Ambiente e do das Relações Exteriores para conseguir o espaço.

De fato, há quem se sinta em casa. Na segunda, alguns brasileiros chegaram a estender suas cangas embaixo das palmeiras árabes que circundam o pavilhão. Mas a segurança intercedeu e acabou com a festa.

Mas o pavilhão funciona mesmo para coisas mais sérias. Já houve 70 painéis e haverá mais 50 até o fim da COP28, em 12 de dezembro. E foram realizadas 240 reuniões até essa terça-feira.

Criada em 2015, a Eventos Extremos só fala das agruras da civilização sob a pressão do aquecimento global, com canções em inglês ou português, como "Liberate Carbon" (libere carbono) ou "Sou Negacionista (Não Insista)".

Três músicos em um palco
Show da banda Eventos Extremos em estande oficial do Brasil na COP28, conferência da ONU sobre mudanças climáticas, em Dubai, nesta terça (5) - Ivan Finotti/Folhapress

E eles entendem do assunto: a banda é formada pelos violonistas Claudio Angelo, coordenador de política internacional do Observatório do Clima, e Ricardo Baitelo, coordenador de projetos no Iema (Instituto de Energia do Meio Ambiente), e pelo jornalista e baterista Gustavo Faleiros —que não viajou à COP e foi substituído em cima da hora por um outro especialista climático que também entendia de percussão.

Assista abaixo trecho do show:

Não foi só no pavilhão oficial do Brasil que os negociadores da COP puderam ouvir música brasileira. Fafá de Belém cantou nesta terça no Pavilhão do Consórcio Amazônia Legal, um espaço de 100 m2 para que os nove estados amazônicos possam apresentar programas e captar recursos.

Ali, ao todo haverá 60 painéis e de 100 a 140 reuniões bilaterais. Segundo apurado pela Folha, o custo do pavilhão foi de cerca de R$ 4 milhões.

O terceiro pavilhão relacionado ao Brasil na Expo City é o exclusivo da CNI (Confederação Nacional da Indústria). Pela primeira vez com espaço próprio na chamada Blue Zone da conferência, a entidade recebeu cerca mais de cem empresários em sua inauguração, além de governadores, ministros, senadores e deputados, especialmente das regiões Nordeste e Norte —o atual presidente da CNI, Ricardo Alban, é baiano.

O órgão aproveita a COP28 para lançar uma série de estudos, como o que mostra que um plano de descarbonização do setor industrial até 2050 custará cerca de R$ 40 bilhões. Outros tratam da atuação dos empresários em tempos de responsabilidade climática ou do potencial eólico offshore brasileiro.

Antes de cancelar sua participação na COP28, a Braskem participou de dois painéis no pavilhão da CNI, sobre "a importância da elaboração do inventário de emissões" como uma ferramenta para "aumentar a competitividade das organizações" e sobre "a relevância estratégica da economia circular para a mitigação das emissões".

No pavilhão do Brasil, a mineradora —que agora enfrenta a possibilidade de desabamento de casas em Maceió— tinha dois eventos programados: "O papel da indústria na economia circular de carbono neutro" e "Impactos da mudança do clima e a necessidade de adaptação da indústria".

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