Março é o décimo mês consecutivo a bater recorde de calor

Temperatura média no período foi 1,68°C acima do nível pré-industrial

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Benjamin Legendre Nick Perry
AFP

O observatório europeu do clima alerta que o último mês foi o março mais quente já registrado no mundo e o décimo mês consecutivo a bater recordes de calor, com temperaturas máximas também registradas nos oceanos.

Segundo o observatório Copernicus, financiado pela União Europeia, os recordes mensais de calor vêm ocorrendo desde junho de 2023 —e março não foi exceção.

O Serviço de Mudanças Climáticas do Copernicus (chamado de C3S) aponta que a temperatura média em março de 2024 foi 1,68°C acima de um março típico no período pré-industrial (1850-1900).

Lago com borda seca e árvores retorcidas
Seca no reservatório La Calera, a 14 km de Bogotá; capital da Colômbia fará racionamento de água a partir desta semana - Luis Acosta - 12.mar.2024/AFP

O mais alarmante, no entanto, é o quadro geral, diz Samantha Burgess, subdiretora do C3S.

Grandes extensões do planeta experimentaram temperaturas acima da média em março, desde a África até a Groenlândia, passando pela América do Sul e pela Antártida.

Não foi apenas o décimo mês consecutivo a bater seu próprio recorde de calor, mas também marca a conclusão do período de 12 meses mais quente da história: 1,58°C acima das médias pré-industriais.

Isso não significa, porém, que o limite de aquecimento de 1,5°C, estabelecido no Acordo de Paris, de 2015, tenha sido ultrapassado. Essa média precisa ser avaliada em décadas, não em anos.

No entanto, "estamos extraordinariamente perto, e já na prorrogação", afirma Burgess.

O IPCC, painel científico da ONU sobre mudanças climáticas, alerta que é provável que o mundo ultrapasse 1,5°C no início da década de 2030.

Recordes na superfície dos oceanos

Depois do recorde de temperatura na superfície dos oceanos em fevereiro, uma nova máxima, de 21,07°C, foi alcançada em em março, exceto nas áreas próximas aos polos.

"É incrivelmente incomum", destaca Burgess.

Os oceanos cobrem 70% do planeta e têm mantido a superfície da Terra habitável ao absorver 90% do excesso de calor produzido pelas emissões de carbono das atividades humanas desde a era industrial.

Oceanos mais quentes ameaçam a vida marinha e provocam mais umidade na atmosfera, o que leva a condições meteorológicas mais instáveis, como ventos fortes ou chuvas torrenciais.

"Quanto mais aquecer a atmosfera global, mais numerosos, graves e intensos serão os fenômenos extremos", afirma a cientista, citando a ameaça de "ondas de calor, secas, inundações e incêndios florestais".

Entre os exemplos recentes estão a escassez de água no Vietnã, na região espanhola da Catalunha ou na África Subsaariana.

Bogotá, a capital da Colômbia, vai racionar o fornecimento de água a partir de quinta-feira (11), enquanto, no México, a escassez paira sobre a próxima campanha presidencial. Rússia, Brasil e França, por outro lado, sofreram enchentes recentemente.

Segundo o Copernicus, o fenômeno El Niño, que aquece a superfície do mar no oceano Pacífico e provoca um clima mais quente em todo o mundo, continuou enfraquecendo em março.

Mas seu efeito de aquecimento não explica sozinho os picos drásticos registrados no ano passado, ressalta Burgess. Além disso, as previsões para os próximos meses continuam indicando temperaturas acima da média, acrescenta ela.

Serão batidos mais recordes nos próximos meses? "Se continuarmos vendo tanto calor na superfície do oceano (...) é muito provável", avalia Burgess.

"2023 está dentro da faixa prevista pelos modelos climáticos, mas realmente no limite externo", longe da média, diz também a cientista.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.