Na amazônia equatoriana, borboletas são 'termômetros' das mudanças climáticas; veja fotos

Cientistas observam ciclo de vida de espécies para entender efeitos do aquecimento

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Paola López
AFP

Biólogos e guardas-florestais prendem a respiração ao abrirem uma iguaria fétida que atrai borboletas, que medem os efeitos das mudanças climáticas na amazônia equatoriana.

O cheiro de peixe podre preenche parte da trilha onde a equipe pendurou 32 iscas no meio da floresta densa da Reserva de Vida Selvagem de Cuyabeno. Desde agosto, é realizado no local um projeto de monitoramento de borboletas com o apoio da ONG americana Rainforest Partnership.

Borboleta branca e preta, com padrão semelhante ao de uma zebra
Borboleta em área de proteção da floresta amazônica em Cuyabeno, no Equador - Daniel Munoz/AFP

Dentro das redes, os guardas-florestais colocam um copo com isca de peixe ou banana fermentada para seduzir as borboletas adultas, cuja vida efêmera permite compreender no curto prazo os estragos do aquecimento global, como a extinção de algumas espécies.

Em uma semana, foram encontrados 169 exemplares desses insetos, a maioria da família dos ninfalídeos —97 foram marcados em suas asas e liberados. Os demais estão sendo estudados devido à possibilidade de serem espécies novas.

A bióloga María Fernanda Checa dirige o projeto e há uma década pesquisa borboletas no vizinho Parque Nacional Yasuní, reserva da biosfera com grandes campos de petróleo em exploração. O seu trabalho foi estendido em 2023 à reserva Cuyabeno, na província de Sucumbíos.

Os resultados serão divulgados em breve, mas Checa, professora da Pontifícia Universidade Católica do Equador, adianta algumas das descobertas.

O número de espécies de borboletas que caem em armadilhas foi reduzido em 10% e, na quantidade de exemplares, "a diminuição é muito significativa, estamos falando talvez de 50%", afirma. "É algo que nos preocupa."

As borboletas são "bioindicadoras", ou seja, "muito sensíveis, mesmo a pequenas alterações no ecossistema" devido ao seu ciclo de vida, que começa quando são ovos, depois lagartas, e então têm uma breve vida adulta, diz Checa.

As épocas de seca "são mortais", ela salienta.

Efeito dominó

A bióloga Elisa Levy, que a AFP acompanhou em uma expedição, comanda o monitoramento de borboletas em Cuyabeno, floresta alagada com árvores que crescem no meio das lagoas.

Levy explica o efeito cascata da crise climática no ecossistema.

"Se a planta hospedeira [da qual a lagarta se alimenta] não se adaptar à mudança climática, a borboleta não sobreviverá", conta.

No Equador, um país pequeno mas muito biodiverso, existem cerca de 4.000 espécies de borboletas, um número próximo ao dos seus vizinhos Peru e Colômbia, que são quatro vezes maiores.

Nas zonas tropicais, as borboletas não se adaptaram à mudança climática extrema, como nos países que têm as quatro estações.

"Se o clima esfria ou esquenta [a temperaturas excessivas], elas não têm muitas oportunidades de adaptação rápida" porque esses processos levam "milhares de anos", alerta Levy.

De acordo com um documento publicado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês) em 2023, 35% das espécies de insetos no mundo estão em risco de extinção.

"É um problema sério para nós" pelas funções que desempenham na natureza, como a polinização, afirma Checa. E o mais grave é que em lugares muito diversos, como Yasuní, "o ritmo de descoberta de espécies é mais lento que o ritmo de extinção", acrescenta.

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