Impacto climático da humanidade é como o meteoro que eliminou dinossauros, diz chefe da ONU

Em discurso, António Guterres pede ação contra combustíveis fósseis e ressalta novo recorde de calor global

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Nova York | AFP

Os humanos representam o mesmo "perigo" para o planeta que "o meteorito que exterminou os dinossauros", declarou o secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), António Guterres, nesta quarta-feira (5), quando é celebrado o Dia Mundial do Meio Ambiente.

Durante evento em Nova York, o discurso do chefe da ONU chamou a atenção para relatórios internacionais alarmantes —entre eles o do observatório europeu Copernicus, que apontou que o mundo bate recordes de calor há 12 meses consecutivos.

Como uma das estratégias para frear o problema, ele exigiu a proibição da publicidade do petróleo, gás e carvão. A queima de combustíveis fósseis é principal causa do aquecimento global.

"Na questão do clima, não somos os dinossauros. Somos o meteorito. Não estamos apenas em perigo. Somos o perigo", disse Guterres.

Um homem vestindo terno e gravata fala em um púlpito com o emblema das Nações Unidas, diante de uma audiência atenta. Duas cabeças estão desfocadas em primeiro plano da imagem.
O Secretário-Geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, fala durante evento de soluções climáticas no Museu Americano de História Natural, na cidade de Nova York, EUA. - David Dee Delgado - 5.jun.2024/Reuters

Ele destacou, ainda, que a humanidade deve deixar o papel de "problema" e pode se tornar a solução, caso as lideranças globais decidam tomar ações efetivas urgentes.

O secretário-geral apelou, novamente, a uma ação global para limitar o aquecimento a 1,5°C. Essa meta, a mais ambiciosa do Acordo de Paris, firmado em 2015, está "por um fio", lamentou Guterres.

Também nesta quarta, a Organização Meteorológica Mundial, vinculada à ONU, anunciou que há 80% de chance de a temperatura média anual global exceder o limite de 1,5°C em, pelo menos, um dos próximos cinco anos.

"A batalha por 1,5°C será vencida ou perdida na década de 2020, sob a vigilância dos líderes de hoje. Tudo depende das decisões que esses líderes tomarem, ou deixarem de tomar, especialmente nos próximos 18 meses", afirmou.

Os países signatários do Acordo de Paris devem apresentar novas metas de redução das emissões de gases de efeito estufa até o início de 2025.

Guterres pediu à humanidade para tomar uma "rota de saída da estrada para o inferno climático", colocando um alvo específico na indústria dos combustíveis fósseis, que ele rotulou de "Poderosos Chefões do caos climático".

O secretário-geral também denunciou os anunciantes de ações de publicidade das petroleiras como "facilitadores", que ajudaram as empresas de combustíveis fósseis a adiar a ação climática. "Parem de aceitar novos clientes de combustíveis fósseis a partir de hoje e estabeleçam planos para abandonar os existentes", frisou.

Guterres repetiu o apelo à criação de um imposto sobre os lucros das empresas de combustíveis fósseis para financiar a luta contra o aquecimento global, ao mesmo tempo que mencionou "taxas de solidariedade" não especificadas nos setores da aviação e transporte marítimo.

Ele também exigiu, mais uma vez, que os países ricos, os maiores responsáveis pelas emissões de carbono, eliminem gradualmente o carvão até 2030 e reduzam o consumo de petróleo e gás em 60% até 2035 —além de aumentar a ajuda aos países mais pobres e em maior risco.

"Mesmo que as emissões fossem reduzidas a zero amanhã, um estudo recente mostrou que o caos climático custaria pelo menos US$ 38 bilhões (R$ 200 bilhões) por ano entre agora e 2050", declarou.

É muito mais do que os US$ 2,4 bilhões (R$ 12,6 bilhões) necessários até 2030 para que os países em desenvolvimento (excluindo a China) abandonem as energias fósseis e se adaptem ao aquecimento global, de acordo com um cálculo de especialistas da ONU.

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