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Título da Unesco é esperança para reforçar proteção de tartarugas nos Lençóis Maranhenses

Pesquisadores esperam aumento de fiscalização onde vivem espécies ameaçadas de extinção

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São Paulo

Os utensílios de pesca ilegal e a poluição são os principais inimigos das espécies de tartarugas marinhas ameaçadas de extinção que habitam a região do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses —agora reconhecido como Patrimônio Natural da Humanidade, pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura ).

Nesta nova fase, biólogos relatam estar preocupados com o provável aumento do turismo. Ao mesmo tempo, esperam que mais investimentos surjam a partir do reconhecimento, anunciado no final de julho, para reforçar o controle de pessoas e a proteção da biodiversidade.

De acordo com a World Heritage Watch, ONG ligada à Unesco, o título impulsionará e facilitará o recebimento de recursos. Para isso, o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), órgão gestor do parque, deverá submeter projetos a instituições nacionais e internacionais.

Uma tartaruga marinha está deitada na areia da praia, com o mar ao fundo. O céu está claro e há algumas nuvens. A tartaruga tem uma carapaça grande e arredondada, com uma coloração que varia entre tons de marrom e verde.
Tartaruga-verde (Chelonia mydas) encalhada em praia no Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses - Paula Santiago - 13.jul.2024/Projeto Queamar/Divulgação

Há 18 anos, o projeto Queamar (Quelônios Aquáticos do Maranhão) atua no monitoramento de tartarugas marinhas que acabam mortas por ingestão de lixo ou por encalhamento. A iniciativa surgiu para fomentar pesquisas científicas da UFMA (Universidade Federal do Maranhão) relacionadas às espécies da região.

"Com esse título [de Patrimônio Natural], eu fico muito otimista de que as ações de fiscalização melhorem e que a gente possa encontrar resultados de pesquisas mais satisfatórios e conclusivos ao longo do tempo", diz Larissa Barreto, coordenadora do projeto e bióloga no departamento de oceanografia da UFMA.

O lixo que chega às praias dos Lençóis é trazido pelo mar a partir de cidades e de grandes navios. Os objetos provocam a morte de diversas tartarugas. Para Barreto, o aumento de fiscalizações e de pesquisas científicas pode dar mais a segurança aos bichos e produzir embasamento para a gestão do parque ter mais ações preventivas e de resposta aos problemas.

"O mar desova lá [o resíduo]. Não é um lixo das comunidades ou do parque. Então é complicado solucionar esse problema a curto prazo. Com relação às ações de pesca, rede de arrasto, curral, vários tipos, esses podem ser minimizados ao longo do tempo com fiscalização", descreve.

Neste ano, 19 tartarugas foram encontradas mortas, encalhadas na praia. Em 2023, foram 11. O número mais alto ocorreu em 2016, com o registro de 172 animais encalhados. O monitoramento hábil possibilita, explica Barreto, identificar a causa da morte e buscar soluções.

Num parque de grandes dimensões —são 155 mil hectares—, às vezes, contudo, as ações não chegam na velocidade necessária, lamenta a bióloga.

José Pedro de Oliveira, representante da World Heritage Watch no Brasil, afirma que o título da Unesco coloca os Lençóis Maranhenses em um patamar mundial importante, tanto para o turismo quanto para a sua conservação. Ele destaca que as boas condições atuais do parque, atestadas em visita de comitiva, levaram ao reconhecimento.

"O sítio dos Lençóis Maranhenses é espetacular, uma paisagem única. Não existe nada parecido no mundo. Por isso que também foi reconhecido como patrimônio, mas não só pela beleza, também pela importância biológica que tem lá, da fauna e da flora, que são especiais", destaca.

O parque possui cerca de 133 espécies de plantas, 112 espécies de aves e ao menos 42 espécies de répteis. Entre os animais do parque, estão quatro ameaçados de extinção: guará (Eudocimus ruber), lontra-neotropical (Lontra longicaudis), gato-do-mato (Leopardus tigrinus) e peixe-boi-marinho (Trichechus manatus).

O especialista conta que o parque teve sua candidatura submetida à Unesco ainda durante o governo Temer, quando ocupava a função de secretário de Biodiversidade e Florestas do MMA (Ministério do Meio Ambiente). O governo Bolsonaro, no entanto, não deu prosseguimento aos processos para a avaliação do comitê do Patrimônio Mundial, o que atrasou a escolha, retomada no governo Lula.

O reconhecimento vem com recomendações da Unesco, principalmente em relação à preservação da configuração original do espaço e ao turismo, como explica a chefe do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, Cristiane Figueiredo, servidora do ICMBio.

Além de dar apoio a projetos científicos, a gestora conta que o ICMBio desenvolve atividades junto às comunidades tradicionais que vivem dentro do parque. Segundo ela, a participação dos moradores está ligada diretamente ao controle do turismo e à preservação ambiental.

Para desafios como a pesca predatória de navios que vêm de outros estados e países, Figueiredo destaca que busca parceiras com outros órgãos para combater o problema, como a Marinha.

"É necessário que todos entendam que se trata de um Patrimônio Mundial, que a gente tem responsabilidade de proteger o bem natural, que é a biodiversidade, a paisagem deste ambiente. A gente tem que buscar meios para isso", diz.

Nascido e criado em uma comunidade pesqueira artesanal, Adelson Neves foi convidado pelo ICMBio a participar da cerimônia da Unesco em Nova Déli, na Índia, que reconheceu os Lençóis Maranhenses como Patrimônio da Humanidade. Em 26 de julho, ele representou a população ribeirinha que mora dentro do parque nacional.

Neves, além de habitante do local, é agente ambiental temporário do ICMBio e trabalha com a conservação da tartaruga-pininga (Trachemys adiutrix), também conhecida como cágado do Maranhão, a única espécie de água doce da região do parque, que sofre também com a ameaça da pesca predatória.

"Eu atuo na área de proteção das piningas, espécie endêmica da região, e como guia, quando o pessoal da UFMA pede apoio para levá-los até a praia. Antes de ser parque, a comunidade já morava no local. Para nós, moradores, é muito gratificante esse título de Patrimônio Mundial", comemora o líder comunitário.

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