Siga a folha

Descrição de chapéu Dias Melhores desmatamento

Moradora de Mogi das Cruzes (SP) faz papel de 'guardiã da floresta'

Criadora de camping relata aumento do desmatamento na região

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Renan Omura
Suzano (SP) | Agência Mural

Maria Cristina Oliveira, 62, costuma acordar cedo. Pontualmente às 6h30 toma o café da manhã enquanto escuta o noticiário pelo radinho de pilha, único aparelho que consegue captar sinal na região. "Aqui fico isolada. Sem sinal de celular, TV e muito menos de internet."

Cristina, ou simplesmente Cris, vive sozinha no pico de uma serra, no distrito de Quatinga, a 43 km do centro de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Cercada por uma densa floresta, a área faz parte dos 65% do território de mata atlântica que compõem o município.

"Estou aqui há dez anos e não troco essa paz por nada. Já vi animais de todos os tipos aqui. Pássaros vermelhos, azuis e verdes. A água que eu tomo vem direto do meu poço. Sou privilegiada de poder contemplar essa riqueza", relata.

Maria Cristina, 62, vive há dez anos no pico de uma serra em Mogi das Cruzes (SP) e relata aumento do desmatamento na região - Renan Omura/Agência Mural

Apesar da tranquilidade do lugar, Cris vive uma luta constante desde que se mudou para lá. Nos últimos anos, a ativista fez mais de 20 boletins de ocorrência contra loteamentos clandestinos, caçadores ilegais, desmatamentos e cultivos irregulares de eucalipto na região.

"Os crimes que vemos aqui são só uma fração do que está acontecendo no Brasil inteiro. Precisamos lutar contra a boiada que deixaram passar", afirma. "Passar a boiada" foi a expressão usada pelo ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, sobre o objetivo de flexibilizar a legislação contra crimes ambientais.

Uma das denúncias que a ativista fez ao Ministério Público de Mogi das Cruzes, em maio de 2018, resultou em uma operação conjunta entre a polícia ambiental e a Fundação Florestal na Vila Taquarussu. Na ocasião foram embargadas plantações irregulares de eucalipto e também foram apreendidos os maquinários.

Cris diz já ter sofrido represálias pelas denúncias. Os quatro pneus da caminhonete dela foram cortados em uma ocasião, em 2016. Além disso, sua casa já foi furtada logo após uma reclamação. Para a ativista, esses crimes seriam mensagens para que suspendesse suas ações.

"Eu sou como uma ‘guardiã da floresta’. Tenho essa missão de cuidar da natureza. Por isso não tenho medo", afirma.

Mesmo sem conexão com a internet no local onde mora, Cris faz uso das redes sociais para denunciar os crimes ambientais da região. Ao menos uma vez por semana, ela vai ao centro da cidade para fazer compras e lives, denunciando as infrações flagradas por ela.

"Eu sou a avó desses cantores que fazem lives hoje em dia", brinca sobre o movimento que ganhou força durante o isolamento social. "Comecei bem antes da pandemia, inclusive, comecei as denúncias no Orkut", destaca.

​O seu sítio faz parte de uma propriedade de 250 hectares de mata localizada entre Mogi das Cruzes, Santo André e Cubatão, conhecida como Chácaras Reunidas Santo Antônio. A área equivale a 350 campos de futebol.

Cris se apaixonou pela calmaria do lugar e largou o emprego e a antiga casa no bairro da Mooca, em São Paulo, para ir morar lá —além do próprio casamento. "Meu ex-marido disse: 'Ou eu ou o sítio’. Daí eu falei para ele: 'Estarei lá. Se precisar sabe onde me encontrar'", conta.

Em março de 2014, Cris fez um pedido de reconhecimento de RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) à Fundação Florestal para tornar a sua propriedade uma unidade de conservação privada, pois, assim, a preservação do local seria de responsabilidade dela. No entanto, a ativista não conseguiu ainda o título.

"Resolvi eu mesma cuidar da natureza, porque me parece que as autoridades não estão interessadas em preservar o meio ambiente", opina.

Simplão de Tudo

Antes de se mudar para Mogi das Cruzes, Cris trabalhava em uma empresa de materiais escolares. No sítio, porém, para ter uma renda e se manter em meio à floresta, criou um camping, chamado Simplão de Tudo.

O local é um espaço destinado às pessoas que querem acampar e ter contato com a rica biodiversidade da mata atlântica. Para pernoitar, é preciso fazer uma reserva e levar a própria barraca. O espaço também é aberto para bandas, saraus, exposições e manifestações artísticas.

"Aqui também somos favoráveis à diversidade e inclusão social, inclusive 70% dos frequentadores são da comunidade LGBTQIA+", diz.

Para chegar até a casa de Cris, é preciso passar por uma rota ecoturística conhecida como Caminho do Sal. O trajeto que interliga Mogi das Cruzes à Vila de Paranapiacaba, em Santo André, é bastante frequentado por trilheiros, praticantes de mountain bike e motoristas que vão em direção a Paranapiacaba.

À Agência Mural, o Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo Itutinga Pilões afirmou que a maior parte das áreas mencionadas nas denúncias de Cris está fora dos limites do parque, sendo assim de responsabilidade do município e da polícia ambiental.

Já a Prefeitura de Mogi das Cruzes afirmou que os locais citados pela ativista são patrulhados pelo agrupamento da polícia ambiental. Segundo a administração, os agentes estão atentos às denúncias da comunidade.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas