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Nível baixo do rio Paraguai dificulta deslocamento no pantanal para combate ao fogo

Brigadistas enfrentam operação de dez horas de duração em incêndio noturno

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Corumbá (MS)

A atual temporada de incêndios no pantanal, com começo antecipado e em meio a um período de falta de chuvas, impõe desafios de logística para o combate ao fogo. Pelas dimensões do bioma, normalmente as jornadas já são longas para chegar aos focos. Agora, com o rio Paraguai em nível baixo, os deslocamentos ficam ainda mais complicados.

A Folha acompanhou, na segunda-feira (17), duas operações da Brigada Pantanal do PrevFogo, braço do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) para o enfrentamento de incêndios, que duraram dez horas.

A primeira ação era auxiliar, a pedido da Marinha, para controle do fogo em uma área de preservação na margem direita do rio Paraguai, no chamado Formigueiro, região a três horas de barco pelo rio a partir de Corumbá.

À noite, na volta, a equipe foi surpreendida por um foco de incêndio que avançava na direção do rio e desembarcou no escuro para controlá-lo, evitando que o fogo pudesse "pular" o curso d'água em direção a uma área de proteção ambiental.

Brigadistas do Ibama combatem incêndios à beira do rio Paraguai no pantanal, em Corumbá (MS) - Folhapress

Mas o segundo combate não estava planejado. A atividade do dia começou por volta das 12h. Em linha reta, a distância da base do Ibama até o Formigueiro é de 35 km, mas, na prática, é ampliada pelas curvas no trajeto pela água. O esquadrão, formado por dez brigadistas do Ibama, embarcou em uma lancha da Marinha conduzida por dois militares.

Ainda na primeira hora, pilotos e brigadistas foram surpreendidos quando a embarcação tocou no fundo do rio Paraguai, que enfrenta uma situação de seca excepcional desde janeiro deste ano.

Segundo boletim do Serviço Geológico Brasileiro publicado em 13 de junho, o nível registrado em Ladário, município vizinho de Corumbá, foi de 1,31 metro, muito abaixo da mediana histórica para o dia, de 4,41 metros.

A situação se repetiria por outras vezes no caminho, exigindo paradas para manobrar a lancha e encontrar o leito do Paraguai. De acordo com os brigadistas, o rio, já baixo, acumula areia no fundo, formando bancos submersos que podem surpreender os condutores de embarcações.

Às 14h30, a equipe já estava entediada. Ainda que exuberante, a paisagem do rio cercado por vegetação ficou repetitiva. Por outro lado, havia incerteza sobre a localização do navio da Marinha que havia solicitado contato.

Perto das 15h, os militares da lancha conseguiram contato pelo rádio com a equipe de fuzileiros navais no Formigueiro, e o tédio deu lugar à animação. Depois de encontrarem o navio e receberem gasolina para as máquinas, os agentes do Ibama entraram na mata.

Após 20 minutos de caminhada por uma área devastada à beira do rio Paraguai, o grupo se encontrou com fuzileiros e bombeiros, que disseram não ser possível combater o fogo. O motivo era o avanço rápido com o vento —empurradas, as chamas chegavam às copas das árvores. Mas os brigadistas do Ibama discordaram da avaliação e avançaram sobre o incêndio.

Em meia hora, os brigadistas usaram facões, foices, enxadas e sopradores para empurrar o fogo para longe da vegetação e controlar o incêndio, já que não era possível captar água do rio por causa da distância.

A equipe voltou à lancha e se preparou então para subir o rio Paraguai de volta a Corumbá, uma viagem estimada em ao menos três horas.

Uma hora depois, quando o sol se punha, os brigadistas avistaram, do lado direito do percurso, um foco de incêndio que se aproximava da margem.

Segundo Tom Rojas, chefe de esquadrão do PrevFogo que comandou a operação na segunda-feira, a prioridade tem sido, além de proteger ribeirinhos, evitar que focos de incêndio à beira do rio "saltem" para a outra margem, onde fica a APA (Área de Proteção Ambiental) Baía Negra, em Ladário (MS).

De janeiro até 18 de junho deste, o pantanal já teve 2.333 focos de incêndio, segundo dados do programa BD Queimadas, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

A equipe então se preparou para desembarcar e controlar o fogo naquele ponto, entre a APA e a Área de Adestramento do Rabicho, da Marinha, a cerca de 17 km do centro de Corumbá.

Os militares aproximaram a lancha de um barranco, e um brigadista usou uma enxada para fazer uma escada. Às 18h30, a equipe entrou na mata fechada, abrindo uma trilha com golpes de facão para chegar até os focos de incêndio, que atingiam dez metros de altura.

A equipe se revezou entre a operação da bomba d'água e o avanço mata adentro, para levar as mangueiras. Enquanto combatiam um foco, os brigadistas precisavam se atentar para o surgimento de outros que poderiam cercá-los.

A sequência se repetiu por quatro ou cinco vezes, ao longo de 40 minutos mato adentro.

Assim como entraram rápido na mata, os brigadistas saíram e embarcaram na lancha. Celebraram o resultado da ação tomando tereré, bebida gelada com mate, e cantando um funk com a melodia de "Andança", música célebre na voz de Beth Carvalho, que faz homenagem a Ladário e Corumbá, antes de desembarcarem na base do Ibama perto das 22h.

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