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Corrida atrás de incêndios e cheiro forte da fumaça marcaram a cobertura da Folha no pantanal

Em meio a deslocamentos exaustivos, registramos um trabalho sem fim para evitar desastres

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São Paulo

Um personal trainer, uma cozinheira e um carpinteiro jogavam conversa fora com outros oito colegas a bordo de uma lancha da Marinha no rio Paraguai. No início daquela tarde de 15 de junho, a embarcação passava pelo centro de Corumbá, município de Mato Grosso do Sul perto da fronteira com a Bolívia.

Eles formavam o grupo de 11 brigadistas que seguia para controlar um incêndio próximo da casa de ribeirinhos. Nós havíamos chegado à cidade fazia menos de três horas para reportar o início antecipado da temporada de fogo no pantanal. Após alguns contatos, conseguimos nos juntar à equipe na lancha.

Depois de uma hora de viagem pelo rio, adentramos uma nuvem espessa de fumaça e desembarcamos. Foi enquanto registrávamos a ação de combate que descobrimos as profissões que pouco tinham a ver com o trabalho especializado de combate ao fogo, feito na região por equipes de organizações públicas, como bombeiros e fuzileiros navais, e privadas, caso das ONGs.

Brigadistas do PrevFogo, do Ibama, combatem incêndio em fazenda no leste de Corumbá (MS), no pantanal - Folhapress

No nosso caso, acompanhamos agentes temporários contratados por seis meses pelo PrevFogo, braço do Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) para prevenção e controle de incêndios florestais. No resto do ano é preciso achar outro trabalho.

Mas a motivação das equipes que acompanhamos ao longo daquela semana contrastava com essa incerteza, talvez reforçada pelo tereré distribuído religiosamente antes e depois dos combates.

Os brigadistas abriam com facilidade caminhos no mato, chamados de picadas, para a passagem dos colegas. Carregando equipamentos pesados, transitavam por espinheiros e perto de casas de marimbondos —alguns foram feridos— e passavam horas rodando por estradas de terra atrás dos focos.

Muitos deles já atuaram em outras temporadas, inclusive em 2020, quando o pantanal foi destroçado pelos piores incêndios já registrados na região.

Logo que chegamos a Corumbá fomos recebidos no aeroporto pelo cheiro de fumaça e por uma névoa cinza, lembretes da destruição que se aproximava.

No centro da cidade, porém, o fantasma de 2020 aparecia de forma lateral em comentários sobre a preparação para o Arraial do Banho de São João. Tradicional em Corumbá, o evento viraria notícia nacional após viralizarem imagens da realização de um show enquanto, ao fundo, na margem oposta do rio, ocorria um incêndio.

Em campo, logo percebemos que o deslocamento era a parte mais difícil do combate às chamas.

Durante uma ação em uma fazenda, localizada a ao menos duas horas de carro do centro de Corumbá, uma viatura do Ibama atolou na areia e precisou ser guinchada por outra, que a acompanhava. Já o controle do fogo, em si, durou cerca de meia hora.

Em outra ocasião, no rio, os condutores da lancha da Marinha perderam temporariamente o contato de rádio com a embarcação que estava próxima de um foco de incêndio. Já tínhamos nos deslocado por quase três horas e a ação poderia ser abortada. Isso depois de a lancha esbarrar várias vezes em bancos de areia submersos, mais perigosos por causa da seca atípica deste ano, verificada também no baixo nível do rio.

O tamanho do problema ficou evidente na semana seguinte, com o tom de urgência dos governos e a aceleração do envio de agentes, aviões e helicópteros para a região.

Acionados diariamente para combater focos de incêndio pela região, os agentes sabiam que enxugavam gelo e refletiam, com algum desânimo, sobre quanto tempo ainda duraria o fogo, cujo pico normalmente ocorre entre agosto e setembro. A mesma impressão era compartilhada por funcionários de fazendas e moradores de pequenas comunidades no campo.

O deslocamento talvez seja a melhor forma de resumir o combate a incêndios. As viagens de barco eram modorrentas, e as de carro, um teste de paciência por estradas de terra e areia ou com ondulações no asfalto. O destino sempre era indicado por colunas de fumaça, que faziam sombra sobre lotes inteiros de fazendas ou de áreas vazias.

O dia de trabalho dos brigadistas terminava após o controle dos focos e a volta à base. O nosso, depois do envio de fotos, textos e vídeos à Redação da Folha. Mas o perigo que corre o pantanal, na forma de fumaça e fogo, continuava a se aproximar da cidade.

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