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Descrição de chapéu The New York Times China

Aranhas parecem manipular luz de vaga-lumes para enganar presas

Capturados, machos passam a emitir flashes de forma similar à de fêmeas, atraindo outras vítimas para as teias

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Darren Incorvaia
The New York Times

Imagine ser um vaga-lume macho quando, de repente, o piscar característico de uma fêmea chama a sua atenção. Fascinado, você voa em direção a ela, porém acaba em uma teia de aranha. Aquela fêmea piscante era, na verdade, outro vaga-lume macho, preso na teia e cujo sinal luminoso pode ter sido manipulado por uma aranha para te atrair.

Essa cena se repete toda noite no distrito de Jiangxia, em Wuhan, China. Lá, pesquisadores descobriram que vaga-lumes machos presos nas teias da aranha Araneus ventricosus emitem sinais luminosos mais semelhantes aos das fêmeas, o que leva outros machos a ficarem presos na mesma teia. E, estranhamente, são as aranhas que podem fazer com que os machos presos façam isso.

Aranha (Araneus ventricosus) envolvendo vaga-lume macho (Abscondita terminalis) - Xinhua Fu

"A ideia de que uma aranha pode manipular a sinalização de uma presa é muito intrigante", disse o biólogo Dinesh Rao, da Universidade de Veracruz, no México. "Eles [pesquisadores] mostram claramente que um vaga-lume preso na teia atrai mais vaga-lumes." Rao não esteve envolvido na pesquisa, mas atuou como revisor do artigo publicado nesta segunda (19) na revista Current Biology.

O zoólogo Xinhua Fu, da Universidade Agrícola de Huazhong em Wuhan, estava no campo pesquisando a diversidade de vaga-lumes quando notou que os machos pareciam acabar presos em teias de aranha com mais frequência do que as fêmeas. Ele se juntou, então, a Daiqin Li e Shichang Zhang, especialistas em comportamento animal da vizinha Universidade de Hubei, para desvendar esse mistério.

Trabalhando perto de campos de arroz e lagoas, os pesquisadores observaram os flashes dos vaga-lumes machos presos e perceberam que eles se pareciam mais aos das fêmeas do que aos dos machos voando livremente. Os machos presos emitiam flashes utilizando apenas um de seus dois órgãos de lanterna bioluminescente e, em vez de vários flashes em rápida sucessão, produziam um flash de cada vez, o mesmo sinal luminoso que fêmeas enviam ao tentar atrair os machos.

Para ver se esses flashes alterados poderiam atrair mais machos para a teia, a equipe identificou 161 teias com um vaga-lume macho preso e atribuiu, aleatoriamente, 1 de 4 condições a elas: removeram a aranha; escureceram as lanternas do vaga-lume com tinta; fizeram ambos; ou não fizeram nada. Em seguida, monitoraram as teias a cada 5 a 10 minutos e registraram quantos novos machos foram capturados.

O piscar dos machos presos imitava o das fêmeas apenas quando uma aranha estava na teia; machos sozinhos em uma teia ainda piscavam de forma diferente dos machos voando livremente, mas não de uma maneira que se assemelhasse aos flashes das fêmeas. A emissão de luz similar à das fêmeas parecia funcionar como um canto de sereia para outros machos vaga-lumes, com aquelas teias capturando em média 1,6 macho a mais, em comparação com apenas 0,2 macho a mais para teias sem o piscar semelhante ao das fêmeas.

"Quando os removemos da teia e permitimos um curto período de recuperação, os machos vaga-lumes frequentemente retomavam seu padrão normal de piscar múltiplo", disse Li. Ele e seus colegas suspeitam que as aranhas de alguma forma manipulam os machos vaga-lumes para piscar como fêmeas a fim de atrair mais presas para suas teias. Mas, se elas mesmo fazendo isso, a grande questão é como.

Pode ser que o veneno da aranha altere de alguma forma a bioluminescência do vaga-lume ou que, ao envolver sua vítima, a aranha morda e danifique as lanternas. Rao diz acreditar que a hipótese envolvendo o veneno seja mais provável, assim como Li.

"As aranhas não mordem diretamente a lanterna", afirmou Li. Em vez disso, elas visam outras partes do corpo mais macias. "Talvez o veneno da aranha perturbe o comportamento normal de piscar interferindo na entrega de oxigênio para os sistemas de produção de luz do vaga-lume." Desvendar essa teia de manipulação é um alvo de pesquisas futuras.

Li também está interessado em outros predadores que talvez manipulem suas presas para atender às suas próprias necessidades. "Predadores que se envolvem em mimetismo agressivo indireto e dinâmico, manipulando o comportamento de presas já capturadas para gerar sinais enganosos, podem ser uma estratégia geral", disse ele. Isso poderia se estender para outros sentidos, como o olfato e a audição.

Embora boa parte desse mistério permaneça sem solução, se você é um vaga-lume solitário procurando por uma faísca em uma noite de verão, pode valer a pena dar uma segunda olhada em seu amado.

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