Descrição de chapéu The New York Times

Pela 1ª vez, cientistas encontram evidência de que borboletas cruzaram um oceano

Pesquisadores rastreiam rota da espécie V. cardui após encontrá-la em praia na Guiana Francesa

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Monique Brouillette
The New York Times

Certa manhã, no final de outubro de 2013, o entomologista Gerard Talavera, viu algo incomum: um bando de borboletas Vanessa cardui encalhadas em uma praia na Guiana Francesa.

A V. cardui é uma das borboletas mais amplamente distribuídas no mundo, mas não é encontrada na América do Sul. Porém, lá estavam elas na areia, com suas asas desgastadas e cheias de buracos.

Julgando pela condição delas, Talavera, que trabalha no Instituto de Botânica de Barcelona, na Espanha, supôs que estavam se recuperando de um longo voo.

O inseto é um campeão de viagens de longa distância, cruzando rotineiramente o Saara em uma jornada da Europa para a África subsaariana, cobrindo até 14,5 mil quilômetros. Será que também teriam feito uma jornada de 4.200 quilômetros pelo oceano Atlântico sem nenhum lugar para parar e reabastecer? Talavera queria descobrir.

V. cardui, uma das borboletas mais amplamente distribuídas no mundo - Gerard Talavera/via NYT

Seguir os movimentos de longo alcance dos insetos é desafiador. Dispositivos de rastreamento são muito grandes para os pequenos e delicados corpos dos insetos. Os cientistas tiveram que confiar em suposições e observações de cidadãos cientistas para juntar os padrões de viagem.

"Vemos borboletas que aparecem e desaparecem, mas não estamos provando as conexões diretamente, estamos apenas fazendo suposições", disse Talavera.

Em 2018, Talavera desenvolveu uma maneira de usar uma ferramenta de sequenciamento genético para analisar o DNA do pólen —grãos de pólen grudam nos insetos polinizadores, como borboletas, quando eles estão se alimentando de néctar das flores.

Talavera sequenciou o DNA dos polens para determinar de qual planta vieram. Mais tarde, o DNA poderia ser rastreado até a flora geográfica para mapear o caminho do inseto.

Em um artigo publicado na última terça (25) na revista Nature Communications, Talavera e sua equipe descrevem uma pista crucial para desvendar o mistério das borboletas encalhadas: o pólen encontrado nas borboletas na Guiana Francesa correspondia a arbustos em países da África Ocidental.

Esses arbustos florescem de agosto a novembro, o que coincide com a linha do tempo da chegada das borboletas. Isso sugeriu que elas haviam cruzado o Atlântico. A ideia era tentadora. Mas Talavera e sua equipe tiveram o cuidado de não tirar conclusões precipitadas.

Além de estudar o pólen, os pesquisadores sequenciaram os genomas das borboletas para rastrear sua linhagem e descobriram que tinham raízes europeias e africanas. Isso descartou a possibilidade de terem voado sobre a América do Norte.

Em seguida, eles utilizaram uma ferramenta para confirmar que as origens das borboletas estavam na Europa ocidental, norte da África e África ocidental. Ao adicionar dados meteorológicos mostrando ventos favoráveis soprando da África para a América, eles se aproximaram da descoberta.

"Esse é um brilhante trabalho de detetive biológico", disse o ecologista evolutivo David Lohman, no City College de Nova York, que não esteve envolvido no trabalho.

O rastreamento de Talavera apoiou a conclusão de que aquelas borboletas fizeram a primeira jornada transoceânica já registrada por um inseto.

É provável que estivessem em sua rota típica pela África quando foram desviadas por um forte vento. Uma vez sobre o oceano, continuaram voando até chegarem à costa.

As migrações de insetos são o maior movimento de biomassa ao redor do mundo. Somente sobre o sul da Inglaterra, incríveis 3,5 trilhões de insetos migram anualmente. Sua capacidade de transportar pólen, fungos e até mesmo doenças de plantas por vastas distâncias destaca o impacto global dessas pequenas criaturas.

Com a migração oceânica das borboletas V. cardui, os especialistas dizem que os cientistas podem ter uma maneira melhor de rastrear essas jornadas.

A descoberta mostrou que as delicadas criaturas conseguiram suportar uma jornada difícil e perigosa, que provavelmente durou entre 5 e 8 dias. Também demonstra o quanto os cientistas ainda têm a aprender.

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