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Astronautas 'presos no espaço' voltarão com a SpaceX em 2025

Decisão foi anunciada pela Nasa neste sábado (24); primeira missão tripulada da Starliner, inicialmente prevista para durar 8 dias, deve durar oito meses

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São Paulo

Os astronautas Suni Williams e Butch Wilmore, que subiram ao espaço na cápsula CST-100 Starliner, da Boeing, ficarão mesmo na Estação Espacial Internacional e retornarão apenas em fevereiro de 2025, em uma cápsula da SpaceX que subirá ao espaço em setembro deste ano com apenas dois tripulantes, como parte da missão Crew-9.

"A Nasa decidiu que Butch e Suni vão retornar com a Crew-9." Assim o administrador da agência espacial americana, Bill Nelson, abriu, sem rodeios a coletiva deste sábado (24), anunciando a decisão.

Nelson mencionou a importância do foco na segurança e lembrou os acidentes com os ônibus espaciais Challenger (1986) e Columbia (2003) para destacar a mudança de cultura interna que emergiu dessas tragédias, estimulando equipes a manifestarem suas dúvidas sobre segurança na hora de tomar decisões.

A cápsula Starliner, da Boeing, acoplada à ISS (Estação Espacial Internacional) - Nasa Johnson

Wilmore e Williams partiram para a Estação Espacial Internacional em 5 de junho, no que deveria ser uma missão de cerca de oito dias para certificar a cápsula da Boeing para transporte regular de tripulações à órbita. Com o lançamento, a companhia se tornou a segunda no mundo a lançar astronautas à órbita, depois da SpaceX. De forma singular, também se tornou a primeira empresa a lançar humanos à órbita e não poder trazê-los de volta à Terra, o que não é uma boa notícia.

O voo da cápsula foi marcado por problemas, como vazamentos de hélio do sistema de propulsores do módulo de serviço, que chegaram a ser detectados antes da decolagem, mas foram considerados irrelevantes para a realização da missão.

No processo de aproximação e acoplagem com a Estação Espacial Internacional, no dia seguinte, as coisas ficaram mais sérias –falhas em 5 dos 28 propulsores do módulo de serviço dificultaram o procedimento. É um problema que também afetou o voo não tripulado da Starliner em 2022.

A estadia dos astronautas foi estendida enquanto Boeing e Nasa realizavam testes de solo e em órbita para tentar entender exatamente a razão das falhas e garantir que nada possa ameaçar o retorno seguro dos astronautas. Após acalorados debates, a empresa e a agência espacial chegaram a conclusões diferentes.

Para a Boeing, a Starliner estava pronta para trazer os astronautas de volta. Para a Nasa, restaram incertezas que vinham com risco inaceitável para um voo tripulado –é onde a situação intersecta com a história dos acidentes do Challenger e do Columbia, que mataram cada um sete astronautas. Durante a operação dos ônibus espaciais, a Nasa aprendeu a viver com o risco inerente envolvido com aquelas espaçonaves, e o resultado foi catastrófico. Desta vez, com as lições aprendidas, a opção foi por traçar outro caminho.

E, mais importante, desta vez havia de fato uma alternativa mais segura e pronta para implementação: o uso da cápsula Crew Dragon, da SpaceX, que está operacional e realizou 13 voos tripulados com sucesso, com o próximo marcado para esta segunda-feira (26), na missão privada Polaris Dawn.

Foi preciso ajustar a programação da estação espacial, que é tripulada por expedições que passam cerca de seis meses a bordo. Com a manutenção de Wilmore e Williams no espaço, eles agora são parte da equipe que realizará experimentos e manutenção no complexo orbital até fevereiro do ano que vem. A eles se juntarão dois astronautas na missão Crew-9 da SpaceX em setembro, e os quatro voltarão na mesma cápsula ao fim da missão, em fevereiro de 2025.

O futuro da Starliner

Com a decisão, a Starliner será trazida de volta à Terra sem tripulação em setembro, concluindo de forma melancólica sua missão.

Apesar disso, o sucesso do retorno será valioso para ajudar a certificar a cápsula para voos regulares futuros. Não está claro se isso bastará para viabilizar um próximo voo tripulado, ou se a Boeing terá de demonstrar sua cápsula em um novo voo sem tripulação antes de tentar novamente.

Também não está claro que a Boeing vá querer continuar no projeto. O desenvolvimento da cápsula já trouxe prejuízo de US$ 1,6 bilhão para a companhia. Os últimos eventos certamente não ajudam a minimizar futuras perdas.

O contrato com a Nasa para o transporte de tripulações, firmado em 2014, é de custo fixo, fechado em US$ 4,2 bilhões (R$ 23,2 bi), pelo desenvolvimento do veículo e um voo não tripulado e outro tripulado. A essa altura, a Boeing já teve de fazer dois voos não tripulados, e o primeiro tripulado terminou incompleto.

Perguntado sobre a confiança de que a Boeing seguirá trabalhando na Starliner para apoiar a iniciativa comercial da agência, Bill Nelson respondeu: "100%". Para a Nasa, é muito importante que isso aconteça, já que o programa gostaria de ter redundância: dois fornecedores diferentes do mesmo serviço, para que pelo menos um esteja ativo enquanto outro possa ter problemas.

É justamente essa redundância que permitiu à Nasa desta vez optar por trazer os astronautas de volta na Crew Dragon, em vez de arriscar um retorno na Starliner. A SpaceX desenvolveu sua cápsula também por um contrato de preço fixo (US$ 2,6 bilhões, cerca de R$ 14,4 bi) e já está voando regularmente à Estação Espacial Internacional com tripulação desde 2020.

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