Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".
A coleira do cão
Publicado em 1965, conto de Rubem Fonseca é anúncio do caos na segurança
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Publicado em 1965, o conto “A Coleira do Cão” tem algumas das cenas mais brutais da literatura brasileira. Foi inspirado na experiência profissional de seu autor, o ex-delegado de polícia Rubem Fonseca. A ação se passa no cenário carioca socialmente injusto de sempre. Apenas o tamanho da coleira era menor: as favelas não haviam sido totalmente dominadas pelo tráfico de drogas e, em vez de fuzis importados de Miami, os bandidos pés de chinelo matavam usando velhas pistolas 45 mm.
No relato, o delegado Vilela, um novato, tenta entender como funciona o sistema em meio a uma investigação de múltiplos homicídios. Trata-se de uma pessoa sensível, ainda não contaminada, que não permite a tortura de presos. Nas horas vagas, lê poemas de Carlos Drummond de Andrade, para incompreensão dos colegas e da imprensa.
Como notou o crítico Boris Schnaiderman, “a barbárie institucionalizada é mais forte”. O delegado acaba por ceder e se envolver com a violência. Na delegacia todos recebem suborno, dinheiro do jogo do bicho, e não das drogas (na ficção, estamos nos anos 1960): “Doutor, o senhor não precisa ficar chateado. Dinheiro do bicho não é nada de mais. Todo mundo joga no bicho. É a coisa mais honesta que tem no Brasil. (...) Eu tenho família para sustentar”.
Outro personagem lamenta as condições de trabalho: “Você pensa que uma delegacia mixa como a nossa vai ter camioneta nova? Estou há 30 anos na polícia, já vi entrar chefe atrás de chefe, prefeito atrás de prefeito, governador, presidente, muda tudo, só a polícia continua na mesma merda”.
A diferença é que hoje o buraco é mais embaixo. A crise na segurança do Rio revelou cenas que mesmo Rubem Fonseca teria dificuldade de imaginar: a morte de policiais que, na hora do confronto, não tiveram como se defender. A arma não funcionou.
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