Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".
Memórias da caserna
Roubo, pederastia e tóxico eram motivos de expulsão do Exército; hoje é o rap
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Quando eu estava no forte de Copacabana, três coisas davam expulsão do Exército, e elas eram repetidas para nós, recrutas, como um mantra: "Roubo, pederastia e tóxico". Esta última sempre pronunciada "tóchico".
Era 1982, o ano da Guerra das Malvinas, e um capitão caxias, que tinha a certeza de que o Brasil entraria no conflito (nunca descobrimos se ao lado da Argentina ou do Reino Unido), fez com que voltássemos a ralar com fuzis e cantis, nos preparando para o combate iminente. Pelo menos, mudou a rotina de ir ao rancho, tirar serviço na escala de 24 por 48 horas, varrer e capinar, recolher folhas de amendoeiras e ficar olhando com inveja as pessoas na praia —atividades que cumpríamos até ouvir o toque de ordem para deixar o quartel, à tardinha.
Foi muito bom saber, lendo a reportagem de Felipe Maia na Ilustrada, que as coisas evoluíram, estão mais movimentadas, que agora rappers —como Big Bllakk, que um dia foi o soldado Neto— são expulsos das Forças Armadas porque suas músicas viralizam no meio da tropa. Na minha época nem celular havia.
Como diversão, o máximo que podíamos fazer era jogar totó e pingue-pongue. Ou engraxar os coturnos.
O mantra, como tudo o mais, só funcionava na aparência. Furtos, relações homossexuais e consumo de drogas eram comuns. Nas frias madrugadas como sentinelas do Arpoador e da praia do Diabo, fumava-se maconha. O setor de material bélico era a grande preocupação do comando de oficiais --temia-se que o armamento pudesse parar nas mãos de traficantes. Um soldado —que, fora do forte, era o dono do morro dos Prazeres— foi descoberto e preso, mas conseguiu fugir na hora da mudança de guarda.
Ninguém se importava com o namoro de um tenente —tipo latin lover, moreno de bigodes— com um recruta, que usava farda fashion, a calça colada ao corpo. Eles ficavam à vontade e pareciam felizes.
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