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Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

Generais do governo querem melar as eleições

Ao propor votação paralela em papel, ministro das Forças Armadas alimenta violência

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Em seu livro de memórias "Viver para Contar", Gabriel García Márquez descreve um dos terríveis momentos que testemunhou durante o "bogotazo":

"Ia com um grupo que abria passo pela rua Oito rumo ao Capitólio, quando uma descarga de metralhadora varreu os primeiros que surgiram na praça Bolívar. Os mortos e feridos instantâneos amontoados no meio da rua nos pararam. Um moribundo banhado em sangue saiu arrastando-se do promontório e me agarrou pela barra da calça e gritou em súplica dilacerante: ‘Moço, pelo amor de Deus, não me deixe morrer’. Fugi apavorado. Desde aquele dia aprendi a esquecer outros horrores, meus ou alheios, mas nunca esqueci o desamparo daqueles olhos no fulgor dos incêndios".

No dia 9 de abril de 1948 Bogotá ardeu, depois que Jorge Eliécer Gaitán, o mais popular líder político e que segundo as pesquisas eleitorais teria sido eleito presidente, foi morto a tiros. "Godos" (conservadores) e "cachiporros" (liberais) trucidaram-se nas ruas, dando início a uma guerra civil. O Brasil está perto de engendrar seu próprio "bogotazo".

Um estudo da UniRio mostra que a violência política cresceu 355% nos últimos três anos —214 casos só em 2022—, e quem deveria agir para controlá-la aparentemente tem outros interesses. Dias antes do assassinato em Foz do Iguaçu, o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, esteve na Câmara dos Deputados e disse não estar preocupado com uma reação armada na hipótese de Bolsonaro ser derrotado nas urnas. Onde vive o general?

Vive no mundo das teorias da conspiração e sente saudade do tempo em que militares davam golpes de Estado. Às vésperas da eleição, com o país chocado com a escalada de violência, ódio e intolerância instigada pelo presidente, o general bota mais gasolina na fogueira. Insiste na tese da fraude e agora propõe o absurdo de uma votação paralela em papel. É desculpa para melar a democracia.

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