Flávia Boggio

Roteirista. Escreve para programas e séries da Rede Globo.

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Privatização das praias traz valet para jet-ski e queijo coalho gourmet

Comunidades tradicionais manterão a tradição de serem expulsas e levadas para bolsões de pobreza

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No início da semana, o Senado retomou a discussão da PEC para privatizar áreas do litoral brasileiro. O texto, que tem como relator o senador Flávio Bolsonaro, propõe transferir terrenos da Marinha da União para estados, municípios ou empresas e proprietários privados.

Ambientalistas alertam que a medida levará a uma explosão imobiliária, o que ameaça praias, ilhas, margens de rios e mangues brasileiros. Além de expulsar comunidades tradicionais de seus territórios.

Defensores da proposta, entretanto, afirmam que a privatização só trará benefícios à população e às praias.

Segundo o texto, ocupantes serão obrigados a comprar o terreno invadido, o que vai garantir que incorporadoras, cassinos e clubes privados tenham, democraticamente, a oportunidade de adquirir uma propriedade na praia.

A proposta também permite que comunidades tradicionais possam continuar a tradição de serem expulsas de suas áreas e levadas para bolsões de pobreza.

Na ilustração de Galvão Bertazzi existe uma fila enorme para se ter acesso à praia. A praia é protegida por uma cerca de arame e arame farpado. A fila está organizada por limitadores de passagem e a parte livre está coberta por espetos para que não ser usada, nas laterais. Na entrada um segurança carrancudo diz quem pode ou não passar pela chancela. Na cerca algumas placas de aviso onde se lê: Não mije no mar. Limite: 15 minutos. Não deite na areia.
Ilustração de Galvão Bertazzi para coluna de Flavia Boggio de 29 de maio de 2024 - Galvão Bertazzi/Folhapress

Flávio Bolsonaro diz que a proposta é a "maior reforma agrária na história do Brasil". Sua afirmação é tão verdadeira quanto sua loja de chocolates foi feita para vender chocolates. É como se Chiquinho Scarpa protagonizasse "Morte e Vida Severina".

Ambientalistas apontam o jogador Neymar como um dos defensores da privatização das praias. Ninguém mais indicado para dizer o que é melhor para o litoral do que um cidadão que construiu um lago artificial em uma reserva na mata atlântica. Para um jogador que ganhou um total de zero Copas e zero Bolas de Ouro, ele é especialista em dar "bolas fora".

Defensores alegam que a privatização pode elevar o status das praias, já que poderão cobrar pela entrada e aluguel de espaços na areia. Em vez de circulação livre, banhistas poderão pegar senha para entrar no mar e pagar pela entrada e pelo tempo na água.

Os pilotos de lanchas e jet-skis poderão usufruir de serviços de valet na entrada da praia. Além de desfrutar de iguarias como queijo coalho gourmet, milho verde de produtores premiados e open bar de mate. Quem quiser trazer comida de casa terá que pagar uma "taxa rolha" pela farofa.

Os nomes das praias também serão alterados. Ilhabela será rebatizada de "Beauty Island Village Personalité", Maresias de "Brasilian Miami Beach" e Ubatuba de "Uba-Rain Point International".

Para quem está insatisfeito com a decisão, o consolo é que a medida não vai durar muito tempo, porque, em breve, o mar vai subir.

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