No livro "Lugar de Negro", de Lélia Gonzalez e Carlos Hasenbalg, a análise de diversos modos de dominação deixa evidente a constância de um espaço físico ocupado por dominadores e dominados, no qual o lugar natural do homem branco costuma ser o do privilégio.

No dia a dia, a violência política de raça, que impulsiona ataques a parlamentares pretos e pardos Brasil afora, é uma das expressões desse critério de divisão social. O exemplo mais recente envolve o vereador Renato Freitas, de Curitiba. Alvo de processo por quebra de decoro parlamentar por participar de manifestação contra os assassinatos de Moïse Kabagambe (espancado num quiosque na Barra da Tijuca) e Durval Teófilo Filho (alvejado por um vizinho em São Gonçalo), ele corre o risco de perder o mandato e tornar-se inelegível. O parecer favorável à cassação contou com o apoio da maioria do Conselho de Ética da Câmara Municipal. A decisão ainda será submetida ao plenário, mas o cenário, tudo indica, não é favorável.

No entanto, o "verdadeiro crime" cometido por Renato —advogado, mestre em Direito Penal, Criminologia e Sociologia da Violência pela UFPR—, eleito vereador em 2020, foi o de manter-se fiel à sua cabeleira black power e à promessa de combate ao racismo e à exclusão social.

No exercício do mandato, o vereador foi destratado, detido pela polícia, preso, algemado e levado à força pela Guarda Municipal, como ele mesmo contou em solenidade de desagravo promovida pela OAB. Agora, não bastasse a ameaça de perder o mandato em decorrência da luta antirracista, recebeu e-mail oficial, supostamente enviado por outro vereador, com a seguinte mensagem citando mais dois parlamentares negros:

"A Câmara de Vereadores de Curitiba não é seu lugar, Renato. Volta para a senzala. E depois de você vamos dar um jeito de cassar a Carol Dartora e o Herivelto. (...) Vamos branquear Curitiba e a região sul, queira você ou não. Seu negrinho."

Qual é o lugar de quem escreve esse tipo de coisa?