Celso Rocha de Barros

Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra) e autor de "PT, uma História".

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Descrição de chapéu Governo Lula Chuvas no Sul

Bolsonaro negaria enchentes no Rio Grande do Sul

Na pandemia, Lula seguiria as recomendações dos cientistas, compraria vacina e cooperaria com governadores

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Na semana passada, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) tuitou: "Imagina o que seria do Brasil e dos brasileiros com Lula presidindo-o na pandemia!".

Já vou imaginar, Eduardo, mas, antes, vamos começar imaginando como seria o desastre no Rio Grande se o golpe de seu pai, denunciado pelos ex-chefes do Exército e da Aeronáutica, tivesse dado certo.

Nesse cenário, e só nele, Jair Bolsonaro ainda seria presidente em 2024.

Bolsonaro, um homem branco, cabelos castanhos e terno, está diante de um microfone de mesa, segurando uma máscara com a mão esquerda. Ao fundo, duas bandeiras, a do Brasil e a presidencial
O então presidente Jair Bolsonaro discursa durante evento no Palácio do Planalto - Pedro Ladeira - 10.jun.2021/Folhapress

Quando as enchentes começassem, Jair negaria a existência de enchentes e as chamaria de "chuvazinha". Em suas lives de quinta, divulgaria teorias da conspiração sobre como a China causou a enchente. Com base em uma estimativa de Osmar Terra, afirmaria que menos chuvas cairiam no Rio Grande em 2024 do que no ano anterior. Ao lado de Paulo Guedes, declararia que a evacuação das áreas inundadas seria completamente desnecessária e atrapalharia a economia.

Jair declararia guerra a Eduardo Leite e Sebastião Melo por tentarem resgatar vítimas da enchente, como fez com Doria e suas vacinas. Não visitaria os desabrigados, não choraria pelos mortos. Ao invés disso, faria piada imitando um gaúcho se afogando, e, diante da indignação popular, diria: "Querem que eu faça o que? Não sou salva-vidas".

Em cadeia nacional de rádio e TV, Bolsonaro afirmaria que os afogados deviam ter algum problema de saúde preexistente, porque só isso os impediria de vencer a correnteza a nado, o que ele, com seu histórico de atleta, faria com facilidade.

Mais do que tudo, Eduardo, os gaúchos teriam que torcer contra uma segunda semana de chuvas. Na segunda onda da Covid, no primeiro semestre de 2021, o Brasil, com 2,7% da população do mundo, tinha um terço das mortes globais.

A equipe de dados do jornal O Estado de S. Paulo mostrou que, se seu pai tivesse aceitado a oferta de vacinas do Instituto Butantã, todos os idosos brasileiros teriam recebido duas doses até o começo de março de 2021. Nesta Folha, o epidemiologista Pedro Halal, usando modelos estatísticos padrão e premissas conservadoras, estimou em 95 mil as mortes que teriam sido evitadas entre janeiro e junho se as ofertas do Butantã e da Pfizer tivessem sido aceitas.

Enfim, esse seria o Jair diante da enchente. Quanto à hipotética atuação de Lula durante a pandemia, é ainda mais fácil de imaginar.

Lula faria o mesmo que FHC, Temer, Dilma, Alckmin, Ciro, Marina Silva, Sarney, Tebet, Eduardo Leite, Sebastião Melo, ou qualquer adulto que estivesse na presidência: seguiria as recomendações dos cientistas, compraria vacina, cooperaria com os governadores.

Só quem não fez isso foi seu pai, Eduardo.

Graças a vocês, o Brasil passou por uma das maiores crises da história contemporânea sem poder contar com nada que pudesse ser chamado de governo.

E é isso que Lula, Leite e Melo estão entregando no Rio Grande agora: governo. Políticas públicas. É o básico do básico, e é o que vocês, bolsonaristas, foram incapazes de fazer durante a pandemia. Por isso perderam a eleição.

É uma vergonha que você ainda tenha mandato, Eduardo. Você deveria ter sido preso depois do "não é questão de 'se', é questão de 'quando'". Mas sobretudo, até mais do que pelo golpe, seu pai deveria ser preso pelos vários Maracanãs cheios de brasileiros que vocês deixaram morrer se debatendo por oxigênio.

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