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Jornalista especializada em comunicação pública e vice-presidente de gestão e parcerias da Associação Brasileira de Comunicação Pública (ABCPública)

Um crime quase perfeito

O racismo tem a capacidade de fazer com que as pessoas se sintam menores e indignas quando estão a receber uma ajuda que lhes é devida

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Um dos traços mais perversos do racismo é o fato de minar a confiança das vítimas que, em muitos casos, são responsabilizadas pelo crime que sofreram. Para piorar, por vezes o agredido se culpa pela condição de desvalia que lhe foi socialmente imposta.

Quando isso acontece, a pessoa tende a aceitar como natural a infindável batalha contra obstáculos difíceis de transpor e até a condenar medidas que servem para concretizar direitos básicos que podem reduzir desigualdades históricas. No caso dos negros, é como se só houvesse mérito baseado no sofrimento pessoal e na superação.

Esse tipo de coisa ajuda a entender um homem preto que usufrui de oportunidades criadas por uma ação afirmativa que lhe permitiu ingressar numa prestigiada universidade e defende o fim de políticas étnico raciais, como vem fazendo o juiz Clarence Thomas, da Suprema Corte dos EUA.

Ao justificar sua posição contra o uso da cor da pele e da etnia como critérios de admissão nas universidades de Harvard e da Carolina do Norte, semana passada, ele afirmou que, na década de 1970, "outros alunos o viam como um estudante simbólico" na Faculdade de Direito de Yale.

Por essas e outras, pode-se dizer que o racismo é um crime quase perfeito. Trata-se de uma ideologia que tem a capacidade de fazer com que as pessoas se sintam menores e indignas quando estão a receber uma ajuda que lhes é devida. Para fazer frente a um desequilíbrio dessa magnitude, "apenas" educação não basta. É necessário educação antirracista.

O Brasil construiu um programa de ação afirmativa que foi reconhecido pelo STF em razão da permanente desigualdade da população preta e parda. Felizmente prevalece o entendimento de que é necessário instituir formas de superar o racismo institucional para garantir igualdade material entre os cidadãos.

Todos são iguais perante a lei, mas a igualdade formal é insuficiente. Sobretudo num ambiente racista e preconceituoso.

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