Juiz do Supremo dos EUA declarou lucros de empresa que não existe, diz jornal

Segundo reportagem do Washington Post, Clarence Thomas citou em relatórios financeiros empresa fechada desde 2006

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São Paulo

O Washington Post acrescentou nesta segunda-feira (17) mais um item à lista de suspeitas envolvendo Clarence Thomas, juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos. De acordo com o jornal, nas últimas duas décadas o magistrado afirmou em suas declarações de renda anuais que sua família recebeu centenas de milhares de dólares de uma empresa que não existe há mais de 15 anos.

Clarence Thomas, juiz do Supremo dos EUA, em juramento do então secretário da Agricultura Sonny Perdue - Preston Keres - 25.abr.17/USDA

A firma em questão é a Ginger, especializada em negócios imobiliários e fundada pela mulher do magistrado, Virginia "Ginni" Thomas, nos anos 1980 junto com a família em Nebraska.

Segundo documentos aos quais o Washington Post teve acesso, ela foi fechada em 2006. No mesmo ano, Ginni e seus parentes criaram uma nova firma com nome bastante semelhante —Ginger Holdings—, que assumiu o controle dos imóveis da companhia anterior.

Mesmo assim, o juiz continuou a declarar em seus relatórios financeiros anuais à corte lucros advindos da Ginger, que nos últimos anos variavam entre US$ 50 mil (R$ 246 mil) e US$ 100 mil (R$ 493 mil) por ano. Nem Thomas nem sua mulher responderam aos pedidos de esclarecimento do jornal americano.

O novo caso se soma a uma sequência de supostas irregularidades do magistrado em suas declarações de renda à corte que, segundo a imprensa americana, estendem-se por décadas.

Algumas das revelações mais problemáticas foram feitas pela agência investigativa ProPublica neste mês. Segundo o veículo, Thomas aceitou viagens luxuosas oferecidas pelo magnata do setor imobiliário Harlan Crow, um dos maiores doadores do Partido Republicano, sem divulgá-las publicamente.

Além disso, Crow comprou do juiz em 2014 a casa em que sua mãe morava, no estado da Geórgia, além de outros dois terrenos baldios da família, por cerca de US$ 133 mil (cerca de R$ 655 mil na cotação atual).

A lei dos EUA dita que funcionários federais —incluindo os juízes da mais alta corte do país— divulguem detalhes de transações imobiliárias com valor superior a US$ 1.000. Só há exceções para casos em que a compra ou a venda envolvam diretamente a residência pessoal do servidor ou de seu cônjuge.

Thomas até agora só se pronunciou sobre a primeira acusação, afirmando em nota não saber que tinha de relatar suas férias e que sempre seguiu as diretrizes indicadas pelo formulário que preenche anualmente.

Esta não é, porém, a primeira vez que o magistrado tem problemas com suas declarações de renda. Em 2011, após o alerta de uma organização de fiscalização independente, ele atualizou anos de relatórios para incluir detalhes sobre empregos de Ginni em organizações conservadoras —ela é uma conhecida ativista da causa. Thomas se justificou afirmando que não tinha entendido as instruções dos formulários.

Em 2020, foi forçado a revisar novamente os documentos após outro grupo de fiscalização denunciar que ele não havia relatado reembolsos de viagens feitas para participar de eventos em faculdades de direito.

Na sexta (14), democratas no Congresso pediram que o órgão que elabora políticas para tribunais federais encaminhasse à Procuradoria-Geral do país um pedido de investigação para apurar se o magistrado violou leis relacionadas a ética, citando "aparente padrão de não cumprimento de exigências de transparência".

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