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Professor de ciência política da USP, ex-secretário de Imprensa da Presidência (2003-2007). É autor de “O Lulismo em Crise”.

Nomeação mostra o Brasil de Cristiane

Crédito: Gilmar Felix/Câmara dos Deputados A deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ), escolhida ministra do Trabalho

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O governo Michel Temer passa por má fase, com dificuldade para achar quadros de reposição aos que deixam o navio intempestivamente. Não obstante, sempre encontra um modo de prestar serviços ao país. No caso, o de revelar, cruamente, a que ponto nos trouxe a crise que entra em seu quinto ano.

O prêmio concedido a Roberto Jefferson, presidente do PTB, com a nomeação da filha, Cristiane Brasil, para a pasta do Trabalho, mostra que o sucesso das operações anticorrupção pouco alterou os costumes políticos nacionais. Como se sabe, ao conceder a entrevista que deflagrou o mensalão, em 2005, Jefferson se autoincriminou. Para denunciar José Dirceu e o PT, teve que reconhecer a própria culpa. Passados 13 anos, cumprido um de prisão em regime fechado, lá está ele, impávido, de volta ao poder por meio da descendente.

A própria deputada escolhida aparece na delação da Odebrecht à Lava Jato, além de enrolada com processos trabalhistas (se bem que isso pode trazer conhecimento útil no posto que ocupará). Pai no mensalão; filha na Lava Jato. Nada disso importa. Sob o comando de Jefferson, o PTB deu 14 votos na Câmara pelo impeachment de Dilma, 14 contra o afastamento de Temer e promete outros tantos para a reforma da Previdência. É dando que se recebe.

E se alguém acha que essas agremiações clientelistas estão com os dias contados até a eleição de 2018, deveria ler com atenção o noticiário corrente. Fernando Henrique mandou dizer a Alckmin que ele precisa ser capaz de colar os cacos fisiológicos. Kassab, chefe de um deles, sinaliza que o PSD está disposto a conversar, apesar de ter um pré-candidato, Henrique Meirelles, no seu partido. O ministro Marun, homem de Eduardo Cunha, indica que o MDB também pode apoiar o governador paulista, apesar das mágoas, uma vez que este não se jogou a favor de Temer na hora do aperto, como fez Jefferson.

Enfim, a velha política vai se rearrumando. É possível até que da profusão de novos grupos —à direita, ao centro e à esquerda— saia alguma novidade interessante, mas o Congresso de 2019 não será muito distinto do que está aí. A classe política é o resultado de lenta sedimentação. Não será destruída nem construída do dia para a noite.

Há um erro fundamental em achar que processos espetaculares teriam o condão de substituir a camada atual de legisladores por uma nova em folha. Os políticos profissionais refletem a sociedade da qual emergem. Eles não mudarão enquanto esta não mudar.

PS: de acordo com Fernanda Calgaro, do "G1", o deputado do PSD-RJ que deve assumir com a vacância de Brasil foi condenado "por exploração sexual de menor". O parlamentar diz que a condenação foi política.

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