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Economista, ex-ministro da Fazenda (1967-1974). É autor de “O Problema do Café no Brasil”.

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Bolsonaro recusa toda a evidência empírica

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O presidente recusa toda a evidência empírica e aceita, sem análise crítica, as diferenças identitárias que são próprias da natureza humana. Venceu as eleições ajudado por uma mensagem simples e forte: "vamos mudar tudo o que está aí". Com ela e alguma ajuda da tecnologia, somada a um acidente aleatório (uma facada) que, com o apoio da sociedade, o poupou dos corrosivos debates em que teria de explicar como realizaria a mudança, venceu o "establishment" político sem ter de enfrentá-lo.

A partir da posse, com a pior Casa Civil de toda a história da República, pôs os pés pelas mãos, o que resultou em perigosas dúvidas sobre a sua crença no Estado democrático de Direito, imposto pela Constituição de 1988.

Mesmo não aceitando nenhuma das evidências empíricas, Bolsonaro não pode e não deve ignorar que a confiança que recebeu da sociedade que o elegeu parece estar se dissipando. Ainda que veja nelas um instrumento conspiratório, deveria, para seu próprio bem e do Brasil, levá-las em conta. Por exemplo, com todos os seus problemas, a pesquisa mensal Ipespe (divulgada pela XP Investimentos), feita por telefone com uma amostra aleatória sobre um "frame" muito próximo ao perfil da sociedade brasileira, é um aceitável indicador da evolução dos seus sentimentos.

Ela revela, depois do mês de maio de 2019, uma forte estabilidade das respostas "regular" e "não sabe", em torno de 30%, o que talvez nos permita avaliar a evolução do apoio a Bolsonaro, comparando no tempo as respostas ótimo/bom com as ruim/péssimo.

No mês da posse, janeiro de 2019, tínhamos ótimo/bom = 40% e ruim/péssimo = 20%, ou seja: 70% (40%/60%) ótimo/bom, contra 30% (20%/60%) ruim/péssimo, muito próximo do resultado eleitoral das urnas. Como evoluiu essa relação? A tabela abaixo mostra:

Para salvar o que resta de seu governo e ajudar o Brasil a superar a Covid-19, Bolsonaro deveria usar a receita política universal. Aproximar-se do Congresso e construir um programa comum com uma maioria estável e administrar o país partilhando o poder com ela. Talvez seja apenas desejo, mas creio que há alguma esperança com a Casa Civil entregue, agora, a um comprovado administrador, o general Braga Netto.

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