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Escritor e roteirista, autor de "Por quem as panelas batem"

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Antonio Prata

Uma escolha fácil

Vença quem vença, neste domingo ganha a democracia em São Paulo

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Tenho certeza de que, hoje, em São Paulo, venceremos as eleições. Caso a vitória não ocorra, eu corto um mindinho. O que me faz apostar um dedo no resultado não é o Ibope, o Datafolha ou clarividência: é o TSE.

Nós, paulistanos, vencemos as eleições duas semanas atrás, quando decidimos deixar o obscurantismo dos Russomannos, Joices e Mamães Faleis junto aos santinhos enlameados no meio fio, alçando Bruno Covas e Guilherme Boulos ao segundo turno.

Sei que não são iguais. Não sou ingênuo de achar que basta ser bem-intencionado e honesto, ou que direita e esquerda são conceitos ultrapassados. Há múltiplos interesses em jogo, sempre, diferentes forças, apoios, caminhos, prioridades.

Tenho minhas preferências políticas e meu candidato. Mas saber que o outro pleiteante ao cargo respeita as regras do jogo, acredita na ciência, na Terra redonda, na gravidade da pandemia, que não promove a mentira, a violência, a burrice acima de tudo e o ódio acima de todos já é um alívio tremendo.

Vença quem vença, neste domingo, ganha a democracia —ou esse bicho estropiado do qual devemos cuidar, alimentar, exercitar e um dia, quem sabe, poderemos chamar de democracia.

Vera Magalhães, jornalista e âncora do Roda Viva, publicou em seu Twitter os seguintes diálogos entre Boulos e Covas, na chegada e na saída do programa. Covas: “Oi, Guilherme, quanto tempo, não?”. Boulos: “Eu tô vendo mais o Bruno do que a minha mulher”.

Na saída, Boulos: “Parabéns, Bruno. Você sabe que não sou radical e extremista, mas eu entendo a retórica da sua campanha.” Covas: “Você também sabe que não sou fascista e bolsonarista, tá tudo certo”.

Farpas e ironia, como convém a adversários políticos, mas sobre um colchão de decência king size, densidade 33, tratamento antiácaro.

Talvez eu esteja me contentando com pouco. Os projetos do Covas e do Boulos são bem diferentes. Suas alianças —e seus vices— também. Mas, do quinto dos infernos em que nos metemos, céu e purgatório parecem bem próximos. Pensando bem, não me contento com pouco, não. Estávamos em queda livre rumo ao fundo do poço. Os dois candidatos representam uma freada e a virada pra cima.

Para sem bem sincero, estou mais empolgado com essa dupla de finalistas do que com meu próprio candidato. Não vejo nele a paz celestial. Concordo com muitas, mas não com todas as suas propostas. Paradoxalmente, a minha hesitação me empolga bastante.

Afinal, acreditar que a vitória de um candidato seja a bala de prata que exterminará todos os nossos males tem como revés crer que todas as outras balas são inúteis. Que há apenas um caminho, uma verdade, um dogma. Foi esse tipo de intolerância semirreligiosa que nos trouxe até aqui —e que, por ora, aqui nos mantém.

Depois do primeiro debate do segundo turno, o jornalista Chico Barney tuitou que a chatice da troca de ideias entre Boulos e Covas ajudava “a lembrar que a política não é entretenimento”. Assino embaixo.

Se num canal de TV alguém explica o funcionamento do Ministério Público e no outro uma pessoa mostra a bunda, quem tem mais audiência é a bunda. Movidos pelos valores do entretenimento, em 2018, no Brasil, e em 2016, nos EUA, o povo elegeu a bunda.

A nadegocracia, porém, irá acabar —já está acabando. Pois se há uma verdade comum aos usurpadores, aos impérios e às bundas, desde a Grécia antiga até os dias de hoje é que, sempre, em todo lugar, em algum momento, caem.

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