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Escritor e roteirista, autor de "Por quem as panelas batem"

The Dark Side of the Rainbow

As assombrosas coincidências entre 'O Mágico de Oz' e 'The Dark Side of the Moon'

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Foi uma cerimônia quase religiosa, celebrada em algum sábado à noite, na segunda metade da década de 90. A liturgia começou na videolocadora 2001 da avenida Sumaré, onde eu e uns amigos alugamos o VHS de "O Mágico de Oz". Chegando na casa do Gustavo, cujos pais, os saudosos Maria do Carmo e Geraldo Mayrink, tinham ido viajar, pusemos na vitrola o LP "The Dark Side of the Moon". (Àquela altura já tínhamos CD-players, mas os ritos devem respeitar as alfaias e um compact-disk jamais teve a aura sacra de um LP. Muito menos a de um LP com um prisma na capa, transformando um feixe de luz num arco-íris).

Utilizando-nos de um turíbulo cônico de ervas enteógenas e celulose Colomy, fizemos a fumaça subir aos céus. Pusemos a fita no videocassete, no terceiro rugido do leão soltamos a agulha no início exato da primeira faixa do Pink Floyd e a mágica aconteceu.

Fazia alguns anos que ouvíamos a lenda urbana: se você sincronizasse, conforme descrito acima, "The Dark Side of the Moon" com "O Mágico de Oz", encontrava uma trilha sonora perfeita. Eu desconfiava um pouco, porque essa história geralmente chegava de pessoas muito apegadas às supracitadas ervas, tipos que também acreditavam na existência de túneis secretos ligando Visconde de Mauá a Machu Picchu ou que Paul McCartney estava morto desde Srgt. Pepper's. As coincidências, contudo, eram assombrosas —tanto nas letras quanto nas melodias.

Bem no começo, quando Dorothy corre de casa, Roger Waters canta "Nobody Told you When to Run". Quando o tornado chega, entram uns vocalises assustadores em "The Great Gig in the Sky", até que Dorothy cai desacordada justo no momento em que a música acalma. Quando ela chega no mundo de Oz (onde irá seguir os tijolos dourados), começa a caixa registradora de "Money". Aí chega a bruxa toda vestida de preto e, diante da menina de azul, a letra é "Black, Black, Black... Blue-ue-ue...". O homem de palha sem cérebro dança ao som de "Brain Damage", já quando Dorothy bate no peito do Homem de Lata sem coração, ouvimos os batimentos cardíacos no LP. (O disco acaba aí, no meio do filme).

As coincidências são tantas que eu poderia passar a coluna inteira as descrevendo, mas vocês podem encontrá-las detalhadamente num monte de sites. Recomendo essa matéria do The New York Times escrita pelo colunista de política Charlie Savage — a primeira pessoa a, em 1996, publicar a lenda urbana — ou rural, talvez, já que o filme se passa no Kansas.

Charlie diz não ter sido ele quem descobriu que a sobreposição entre filme e disco combinava perfeitamente. Era um assunto recorrente em grupos de bate-papo com fãs da banda, no início da internet. Ele só fez a matéria para um pequeno jornal de Indiana e, ao postá-la em sua web-page (isso era pré blog), a coisa viralizou.

Os integrantes do Pink Floyd dizem que tudo não passa de uma enorme coincidência. O melhor argumento deles é que em 1973 não havia videocassetes. E o próprio Charlie Savage reconhece que seria impossível manter este segredo por 50 anos, ainda mais se tratando de um filme e um disco tão famosos. Eu colocaria mais um porém: teria sido meio preguiçoso musicarem só metade do filme. Agora, se acharem por aí uma gravação perdida de um "The Dark Side of the Moon parte 2" e o disco encaixar com a segunda metade d’"O Mágico de Oz", eu vou correndo pra Mauá e começo a cavar na mesma hora.

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