Descrição de chapéu The New York Times

'The Dark Side of the Moon', do Pink Floyd, faz 50 anos e continua a reverberar

Álbum indelével da banda britânica misturava grandeza e mal-estar, e se tornou um dos mais vendidos de todos os tempos

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Jon Pareles
The New York Times

Canções sombrias e pesadas sobre loucura, mortalidade e ganância, pontuadas por temas instrumentais tensos. Alguém diria que essa é a fórmula para um álbum de grande sucesso comercial? Não havia motivo para acreditar que o projeto se tornaria um dos discos mais vendidos de todos os tempos.

Mas não há como negar a popularidade e tenacidade de "The Dark Side of the Moon", o álbum indelével que o Pink Floyd lançou 50 anos atrás, no dia 1º de março de 1973. Com seu jeito de monólito inescrutável, o disco passou praticamente todos os 14 anos seguintes ocupando um posto na parada dos 200 álbuns mais vendidos da Billboard –em meio ao punk, à disco music, aos primórdios do hip-hop e ao auge pop da MTV.

A partir da esquerda, o tecladista Ricky Wright, o baixista e vocalista Roger Waters, o baterista Nick Mason e o guitarrista David Gilmour, da banda Pink Floyd
A partir da esquerda, o tecladista Ricky Wright, o baixista e vocalista Roger Waters, o baterista Nick Mason e o guitarrista David Gilmour, da banda Pink Floyd - Storm Thorgerson/Divulgação

O álbum chegou durante a era analógica dos LPs de vinil e das lojas físicas de discos, quando comprar um álbum era um compromisso. E por mais familiar que "The Dark Side of the Moon" viesse a se tornar na programação das rádios FM, as pessoas ainda assim queriam ter uma cópia, ou talvez comprar um disco novo para substituir uma cópia riscada. Na era digital, o álbum "The Dark Side of the Moon" voltou às paradas em forma de CD, vendendo milhões de cópias adicionais; o mesmo aconteceu quando chegou o streaming.

O sucesso de "The Dark Side of the Moon" alimentou as ambições do Pink Floyd e do seu líder, Roger Waters, que vem realizando turnês e lotando estádios desde então. Waters, 79, vai realizar os primeiros shows de sua "turnê de despedida" este ano.

Ele concebeu "The Wall", uma ópera-rock narrativa lançada em 1979, para dar vazão aos seus instintos de rejeição às autoridades, sejam professores ou chefes de Estado; o músico tocou as canções do álbum em um palco que tinha como pano de fundo o Muro de Berlim. Décadas mais tarde, Waters desembestaria a proferir afirmações políticas rabugentas, influenciadas por teorias de conspiração, em favor da Rússia, rejeitadas por muitos de seus antigos fãs. Quando "The Dark Side of the Moon" foi lançado, tudo isso era parte do futuro distante.

Haverá, é claro, mais uma edição de luxo no novo aniversário do álbum. Com lançamento marcado para o dia 24 de março, o novo "box set" traz novas mixagens de alta resolução, com som "surround" e outros extras, embora isso seja em boa medida redundante depois da abrangente "Immersion Edition", de 2011.

Tanto "Immersion" quanto a nova edição incluem uma versão ao vivo muito boa de "The Dark Side of the Moon" executada em 1974, com um som de palco bruto e improvisos prolongados dos músicos.

Waters também anunciou que produziria um remake completo de "The Dark Side of the Moon", com ele nos vocais principais – e não a voz rouca e pesarosa do guitarrista do Pink Floyd, David Gilmour. A ideia é que Waters recite as letras sobre a trilha instrumental do álbum, e "sem solos de guitarra de rock".

Em 1973, "The Dark Side of the Moon" era um álbum que funcionava muito bem tanto para testar um novo som estereofônico – ou, para alguns pioneiros, quadrafônico – quanto para ser consumido em particular, com fones de ouvido e fumando um baseado. O tique-taque de relógios, os alarmes e sinos que abrem a faixa "Time" são surpreendentemente realistas mesmo quando já não apanham o ouvinte de surpresa, e os sintetizadores em movimento perpétuo e o som desesperado dos passos em "On the Run" são eternamente vertiginosos.

A levada imponente, o tom cavernoso e o enquadramento solene anunciam a grande seriedade de "The Dark Side of the Moon", que começa e termina com o som de um coração batendo. O álbum justapõe uma sonoridade grandiosa e pronunciamentos elevados a experiências em escala humana.

Capa do álbum 'The Dark Side of the Moon' da banda de rock inglês Pink Floyd, lançado em 1973 - Reprodução

Suas faixas são pontuadas pelas vozes da equipe de palco e amigos do Pink Floyd, que oferecem petiscos que parecem feitos sob encomenda para loops, como um "sempre fui louco" dito com um jeito de falar de classe trabalhadora.

Como outros dos imensos sucessos de venda das décadas de 1970 e 1980 —"Thriller", de Michael Jackson, "Hotel California", do Eagles, "Rumours", do Fleetwood Mac—, "The Dark Side of the Moon" trata de desilusão, medo e ressentimento, apesar do brilho da sua produção. É um disco cujo cerne é perturbado e obsessivo, e não arrumadinho.

Diversas bandas e produtores aprenderiam com o Pink Floyd a como fundir grandeza e mal-estar, e de que forma alguns sons bem colocados podem dizer muito mais do que uma exibição vistosa de virtuosismo.

"The Dark Side of the Moon" é muito claramente um produto de sua época. O início da década de 1970 foi o apogeu do rock, especialmente no Reino Unido, onde bandas como Genesis, King Crimson e Yes criavam canções com duração semelhante à de suítes orquestrais e revelavam conceitos elaborados.

Mas o início da década de 1970 também foi uma época em que as promessas utópicas da era hippie estavam se esvaindo, rechaçadas pelos interesses estabelecidos e cooptadas pelo mercado. "The Dark Side of the Moon" captura essa perda das esperanças ingênuas.

Foi o oitavo álbum do Pink Floyd, o prosseguimento de uma carreira cult que tinha sido sinônimo do som psicodélico e do rock progressivo —com estruturas mais amplas e improvisos longos, enigmas verbais e um apreço perceptível por texturas reverberantes e efeitos espaciais.

Syd Barrett, fundador e principal compositor do Pink Floyd, deixou a banda em 1968 por conta de problemas de saúde mental, e levou com ele o lado fantasioso do grupo. Waters emergiu como o novo líder, muito mais rabugento.

Mas eles precisaram de uma sucessão de alguns álbuns irregulares, repletos de improvisações chochas no estúdio, para que a relativa concisão e clareza de "The Dark Side of the Moon" entrasse em foco. Embora o álbum funcione como uma espécie de suíte de rock progressivo de 42 minutos de duração —apesar da necessidade de virar o LP, em 1973—, ele também inclui canções bem delineadas, com estrofe-refrão-estrofe, que as rádios podiam tocar.

Waters deliberadamente começou a escrever letras mais diretas e realistas do que no passado. "Dinheiro, é muito bom/ Agarre firme aquela grana, e guarde bem".

Ele decidiu tratar de assuntos sérios —"Time" (tempo), "War" (guerra), a inevitabilidade da morte, a trivialidade da vida cotidiana, a importância de aproveitar bem o momento. Sua perspectiva é sombria.

Em "Breathe (In the Air)", ele descreve a vida como "uma corrida em direção a uma sepultura precoce"; em "Time", ele observa que cada amanhecer nos carrega "um dia mais perto da morte". Mas a razão pela qual "The Dark Side of the Moon" se tornou sucesso de vendas é que a música do Pink Floyd —a banda inteira, com os teclados discretos mas fundamentais de Richard Wright, Waters no baixo, a bateria firme de Nick Mason e a guitarra de Gilmour, cortante e aguda— desafia essa perspectiva miserável.

O álbum vai ganhando ímpeto dramático inexorável até chegar às canções que fecham cada lado do LP. "The Great Gig in the Sky", que fecha o lado A, é uma progressão de acordes de teclado processionais de Wright, encoberta por palavras faladas que negam o medo da morte —"Todos precisam partir um dia"— e seguida pela improvisação vocal livre, ambiciosa e hipnotizante de Clare Torry.

Ela é pura força vital, mostrando dor, liberdade e determinação na voz, como que se recusando a aceitar o esquecimento. (Torry só recebeu crédito como compositora pela melodia que criou em 2005, juntamente com uma indenização não revelada, depois de abrir um processo contra a banda.)

A conclusão do álbum —"Brain Damage", seguida de "Eclipse", ambas compostas por Waters— parece igualmente sombria, mas deixa antever alguma transcendência. Em "Brain Damage", o cantor sente que está sucumbindo à doença mental.

"O lunático está na minha cabeça", ele alerta, o que vem seguido por um coro de risos maníacos. No refrão, canta —"Se a sua cabeça também explodir em pressentimentos sombrios/ Te vejo do lado escuro da Lua".

Depois, em "Eclipse", ele abre caminho para uma unicidade reveladora —"Tudo o que agora é e tudo o que já foi/ E tudo o que está por vir e tudo o que existe debaixo do sol está em sintonia"— mas mais adiante vê essa sintonia engolida pela escuridão, como "o sol é eclipsado pela lua".

No entanto, em ambas as canções, a música se expande por trás dele, com um órgão eclesiástico e acordes maiores robustos, uma guitarra cintilante e harmonias vocais de coral gospel. Quando o álbum chega ao fim, o prenúncio de catástrofe soa como um triunfo; é um daqueles finais que fazem a plateia erguer os punhos e socar o ar nos estádios em um show de rock.

Em entrevistas recentes, Waters descreveu a mensagem do álbum de uma maneira mais positiva. "O que é realmente importante é a ligação entre nós como seres humanos, entre toda a comunidade humana", ele disse ao jornal alemão Berliner Zeitung em fevereiro. Isso é revisionismo. O que faz "The Dark Side of the Moon" reluzir é a alienação, futilidade e desespero. A persistência do álbum revela quantos ouvintes continuam a sentir o mesmo.

Tradução de Paulo Migliacci

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