Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).
Bolsonaro toca corneta para reorganizar apoio militar ao governo
Presidente quis beber na fonte de poder dos militares, mas se afoga ao rebaixar democracia
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Jair Bolsonaro enfileirou fuzileiros navais no centro do Rio, agradeceu a Deus por estar vivo e disse que assumiu a Presidência para cumprir uma missão. Apelou ao patriotismo e à ideologia conservadora, e terminou o discurso afirmando que “democracia e liberdade só existem quando as suas respectivas Forças Armadas assim o querem”.
O presidente quis beber na fonte de poder representada por seus laços com os militares, mas se afogou. A deferência exagerada aos homens de farda indicou uma submissão da democracia aos desejos da instituição.
Os generais do governo foram obrigados a sair a público para tentar amenizar o absurdo.
Bolsonaro tocou uma corneta para reorganizar sua tropa. O presidente fez um esforço para convencer as Forças Armadas de que —apesar dos tropeços políticos, laranjas e escatologias sem sentido— seus propósitos ainda são parecidos.
No evento desta quinta (7), Bolsonaro disse que a tal missão imposta a ele seria cumprida com aqueles que amam a pátria e respeitam a família, e alinhou os militares à tarefa.
A batalha de costumes contra a esquerda foi um fator de aglutinação entre Bolsonaro e as Forças Armadas em determinado momento da campanha eleitoral. Alguns generais que torciam o nariz para o então candidato enxergaram nele a única alternativa para derrotar o PT e defender valores conservadores.
As ressalvas em relação ao presidente ressurgem quando ele dá caneladas na política externa, demite um ministro a mando do filho e entra em polêmicas sobre golden shower. Ao rebaixar a democracia para elevar os militares, ele tenta recuperar apoio nos quartéis, mas a frase também não caiu bem por lá.
No início do governo, Bolsonaro fez um discurso exótico na posse do ministro da Defesa. O presidente disse ao então comandante do Exército que ele era “um dos responsáveis” por sua vitória eleitoral. “General Villas Bôas, o que já conversamos morrerá entre nós”, afirmou. Era difícil saber quem era o chefe de quem.
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