Siga a folha

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

Censura de livros em Rondônia é produto de uma máquina reacionária

Com poder nas mãos, grupos trabalham por agenda baseada em arbítrio e moralismo barato

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Os dados do último Censo Escolar apontaram que só 8% das unidades estaduais de ensino de Rondônia estavam ligadas à rede pública de esgoto. Quatro em cada dez não tinham nem biblioteca, mas o governo local decidiu gastar seu tempo com uma batida para confiscar livros de autores consagrados.

A caçada obscurantista ensaiada pela Secretaria da Educação do estado mostra o que pode acontecer quando a gestão pública se torna refém de obsessões ideológicas. Com o poder nas mãos, grupos eleitos nos últimos anos passaram a trabalhar a favor de uma agenda baseada no arbítrio e no moralismo barato.

Na última quinta (6), o governo de Rondônia enviou um memorando a coordenadores regionais de educação para ordenar o recolhimento de livros "inadequados para crianças e adolescentes". Os censores incluíram no índex obras de escritores célebres como Machado de Assis, Mário de Andrade e Euclides da Cunha.

Lista de livros que o governo de Rondônia pretendia recolher de escolas e bibliotecas - Reprodução

A lista sugere que os tiranos que comandam a burocracia do estado não estão nem aí para a educação dos jovens. A máquina reacionária quis proibir o contato de estudantes com livros que marcaram a literatura brasileira e costumam ser exigidos em vestibulares país afora.

O secretário da Educação praticamente confessou que a ideia era fazer tudo às escondidas. Primeiro, ele disse aos repórteres Paulo Saldaña e Ricardo Della Coletta que não havia ordem daquele tipo. Era mentira, pois a circular aparecia no sistema interno da pasta. Depois, ele anunciou que não haveria mais confisco.

A tentativa de censura é produto de uma visão obtusa das políticas públicas de ensino, que estabelece fantasmas comunistas e a depreciação dos bons costumes como os principais problemas da educação.

Essa, aliás, é uma das linhas mestras do bolsonarismo. Na campanha e no governo, o presidente estimulou a falsa ideia de que o mau desempenho dos estudantes brasileiros é fruto de depravações e de uma contaminação esquerdista nas escolas. Seus discípulos estão escutando.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas