Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

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Delação de Cabral pode ser troféu para corrupto com pena de 282 anos

Divergência entre PF e procuradores escancara fragilidade de acordos da Lava Jato

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Em 2017, Eduardo Cunha entregou aos investigadores da Lava Jato um calhamaço que narrava suas falcatruas. Da cadeia, o ex-deputado citava nomes de 120 políticos, incluindo o então presidente Michel Temer. Os procuradores leram a papelada e decidiram que o relato não valia um acordo de colaboração.

Numa troca de mensagens obtida pelo The Intercept Brasil, um integrante da força-tarefa alertou que Cunha dera "péssimos elementos de corroboração". Outro procurador, porém, foi obrigado a reconhecer:

"Caráter genérico e falta de elementos de corroboração, a rigor, estão em outros acordos com políticos".
Embora o Ministério Público tenha feito jogo duro com alguns de seus troféus, a Lava Jato foi mais do que generosa com os delatores da operação. Ao longo dos anos, investigadores fecharam acordos que se esfarelaram durante processos judiciais.

A cisão entre procuradores e policiais federais diante da colaboração assinada por Sérgio Cabral escancara a precariedade de uma das ferramentas favoritas dos investigadores. O Ministério Público avisou que a delação era imprestável, mas a PF correu atrás do ex-governador.

Cabral levou quase dois anos e meio para começar a confessar seus crimes. Primeiro, assumiu ter embolsado sobras de doações eleitorais e se disse aliviado. Mudou a versão até admitir corrupção pesada. Depois, resolveu entregar antigos aliados.

Os procuradores afirmam que a colaboração não tem novidades e que os R$ 380 milhões que o ex-governador reconheceu ter roubado já estão bloqueados. Os policiais, porém, se impressionaram com os anexos em que Cabral cita políticos com foro especial e integrantes do Judiciário.

Nesse segundo grupo, a Lava Jato pode abrir uma nova porta, mas o trunfo dependerá da consistência das provas apresentadas pelo ex-governador. O alerta dos procuradores mostra que há sérias dúvidas em relação a isso. Se a delação produzir só tiros n'água, o acordo será apenas um prêmio para um corrupto com penas de 282 anos nas costas.

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