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Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

Descrição de chapéu TSE

Barroso poderia ter passado semana sem a declaração e sem a retratação

Ministros deveriam, no mínimo, evitar espaços com alta voltagem política e proteger juízos de tintas partidárias

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Era setembro de 2015, e o governo Dilma Rousseff caía pelas tabelas. Depois de participar de um seminário na Fiesp, o ministro Gilmar Mendes prenunciou o fim do ciclo do PT. Ele disse que o partido tinha o objetivo de "se eternizar no poder" e insinuou que o plano seria interrompido. "O que atrapalhou? A Lava Jato. A Lava Jato estragou tudo", declarou.

O impeachment de Dilma ocorreria no ano seguinte, num processo com as marcas da Lava Jato (que divulgou escutas ilegais da então presidente), da Fiesp (que bancou protestos contra a petista) e do próprio ministro (que impediu a posse de Lula como chefe da Casa Civil).

A conversão de Gilmar num fervoroso crítico dos abusos da operação empresta uma ironia singular ao episódio. Mas aquela não foi a primeira nem a última vez que um ministro do STF fez comentários despreocupados sobre casos julgados pelo tribunal e seus impactos na vida política do país, enquanto confraternizava com uma entidade que tem seus próprios interesses no jogo.

O ministros Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), na abertura do Congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes) em 2023 - Yuri Salvador/UNE

Luís Roberto Barroso tropeçou na língua ao participar de um congresso da UNE na quarta (12). "Já enfrentei a ditadura e já enfrentei o bolsonarismo", disse o ministro, que presidiu o TSE durante a preparação das últimas eleições e enfrentou ataques da extrema direita às urnas.

Tudo indica que Barroso tentava dar uma carteirada para a plateia de esquerda que o vaiava. Como a toga não serve para fazer enfrentamento político, o ministro precisou explicar, no dia seguinte, que se referia apenas ao golpismo do antigo presidente. Depois, ofereceu a mesma justificativa ao presidente do Senado, que chamara o comentário de "infeliz, inadequado e inoportuno".

Barroso poderia ter passado a semana sem a declaração e sem a retratação. Cobrar um voto de silêncio de integrantes do STF seria ingenuidade, assim como cair na onda de bolsonaristas que cobram uma punição. Mas os ministros precisam, no mínimo, evitar espaços com alta voltagem política e proteger seus juízos de tintas partidárias.

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