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Diretora do Centro de Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

O museu e a história

Museus não são só depósitos de objetos valiosos, eles nos permitem refletir sobre nossa trajetória no planeta

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Escrevo esta coluna no dia 7 de setembro, enquanto me recupero de uma pneumonia traiçoeira que me acometeu num momento particularmente difícil. Sinto-me, porém, mobilizada pela efeméride e com o que ela pode trazer de promessas de futuro.

Há alguns meses vinha escrevendo sobre o bicentenário e sobre o projeto de país que precisa ser construído, mas agora resolvi falar de constructos passados e do Museu do Ipiranga, que no dia 7 se abriu, simbolicamente, para os operários que trabalharam na obra de restauro e 200 alunos de escolas públicas estaduais e municipais.

Operários que trabalharam nas obras de restauração, seus familiares e estudantes de escolas públicas, são os primeiros a visitar o novo museu do Ipiranga - Zanone Fraissat -7.set.22/Folhapress

Infelizmente, parcelas da população dita instruída não gostam de visitar nossos museus e só o fazem em viagens internacionais. Não consideram um programa interessante levar seus filhos para conhecerem nossas obras de arte e registros históricos; essa seria uma tarefa da escola, não um momento de lazer da família. Como tampouco seria lazer ler bons livros e comentá-los com as crianças. Com isso, certa repugnância pela cultura vem passando de geração em geração. Mas isso vem mudando: os ingressos do novo espaço cultural já estão esgotados e há anos a visitação dos museus vem aumentando.

Algo me tocou pessoalmente sobre o museu recém-restaurado: como membro do Conselho Consultivo da USP, pude acompanhar alguns momentos importantes do competente trabalho de restauração.

No entanto, neste momento em que discutimos aspectos sombrios da nossa história, poderíamos nos perguntar: ele não seria demasiadamente celebratório de uma historiografia oficial que desconsidera equívocos e até crimes que cometemos, como o tráfico e a escravização de africanos? Ou uma declaração de independência feita por um príncipe português?

Em vez de fugir desses temas, os museus, como os bons livros de história —mesmo os escritos no "zeitgeist" ou espírito de épocas pretéritas—, nos interrogam sobre o passado, sobre o que pode ter movido quem nos precedeu, sobre erros —ou até crimes— e nos levam a buscar evitar sua repetição. Mas para isso é importante que os museus, assim como alguns livros que revisitam nossa história, como o excelente "O Sequestro da Independência", de Lilia Schwarcz, Carlos Lima Júnior e Lúcia Stumpf, nos forneçam chaves para uma releitura profícua.

Afinal, os museus não são meros depósitos de objetos valiosos, eles nos permitem exercer uma habilidade profundamente humana, a de refletir sobre nossa trajetória no planeta, admirando obras de arte ou por elas sentindo-nos instigados, pensando em quem nossa historiografia oficial excluiu, em suma, exercendo o pensamento crítico, tão em falta nos tempos que vivemos.

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