Escritora e roteirista, tem 11 livros publicados. Autora de "Macha".
A claque
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Essas pessoas que ficam na saída do Palácio da Alvorada, lado a lado com os jornalistas, esperando por você-sabe-quem. Qual vampiros no espelho, nunca são reveladas pelas câmeras. Delas conhecemos somente vozes, risadas, aplausos e, é claro, as vaias. Essas pessoas todas, quem são? De onde vêm? Do que se alimentam? Como se reproduzem? Alô, alô, Globo Repórter, temos uma pauta aí.
Serão moradoras de Brasília e arredores? Se forem, estarão desempregadas como tantos outros milhões, o tempo miseravelmente livre para gastar no aguardo de algumas palavras cuspidas —ou só das cuspidas? É que a dicção daquele-que-não-deve-ser-nomeado não é das melhores, dá a impressão de que as palavras, atropeladas, saem também molhadas. Comovente é a disposição com que as tais pessoas riem do que não é engraçado, hahaha, cara de homossexual terrível. De repente é o desespero para conseguir um cargo de confiança no serviço público federal. Não está fácil para ninguém, nem para quem votou na criatura.
Serão turistas incautos? Catedral, a praça dos Três Poderes, a ponte, as quadras intermináveis. Olhos cheios de grandiosidades da arquitetura, embarcam no ônibus do city tour para o que imaginam ser o talk show com um imitador. Quando ele desce do carro, sempre meio descomposto, a turistada já começa a rir. Quando fala “isso daí”, leva a excursão à loucura. As câmeras e os gravadores dos jornalistas captam tudo e fica parecendo uma reunião de apoiadores. A tese é meio fantasiosa, mas ajuda a explicar: quem são essas pessoas?
Há quem diga que a assessoria daquele-cujo-nome-é-melhor-não-pronunciar sai recrutando na hora. Você com a camisa da seleção, pode vir. Tu com o livro do Olavo, te aprochega. A senhora com a camiseta de Jesus armado (pobre Jesus), tem lugar aqui na frente. Se servem um suquinho de ariticum ou um empadão de jaca, daí não sei.
Uma vez acomodado, o pessoal fica o tempo que for preciso, como a claque nos programas de TV, trocando receitas, orações e esperando o momento certo para rir ou vaiar. Pergunta pra tua mãe o comprovante que ela deu pro teu pai: hahaha. O senhor tem falado com o seu filho sobre o caso? Uuuuuuuuuuu.
Só um conselho. Seja qual for o motivo para uma pessoa integrar a claque, é recomendável jamais puxar aquele-que-não-se-deve-denominar pelo braço. Se o Papa, que é um santo, esquentou a mão de uma fiel a tapa, imagina o que pode acontecer à sombra do Alvorada. Abaixa que vem pipoco.
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