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Escritora e roteirista, tem 11 livros publicados. Autora de "Macha".

Prateleiras vazias de Paulo Guedes explicam seu desprezo por livros

Estantes abrem discussões e análises sobre seus donos

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Antes mesmo de o ministro da Economia dizer que livro é coisa da elite, as estantes já tinham virado um importante indicativo social —quase a ponto de serem consideradas como um critério no censo.

Opa, parece que não vai mais ter censo. O presidente quer transferir os R$ 2 bilhões e pouco da pesquisa para os militares da Defesa. Da ignorância é que ninguém nos defende, como sempre.

Fato é que as estantes se firmaram como um dos cenários preferenciais na atual pandemia de lives da quarentena. Há quem apareça no sofá da sala, escolha um vaso de flores para compor a cena ou não esteja nem aí para cenografia ou momento, como o casal transando na live da Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Nada que se compare ao domínio das estantes.

Dá para entender. Além de fotogênicas, elas mostram as ideias de quem está na frente da câmera. Existe até papel de parede com estampa de estante, já que o Kindle não costuma causar o mesmo efeito.

Não que volumes garantam bons pensamentos, como fica claro nas lives do Bolsonaro na biblioteca do Alvorada. Em defesa dos livros, deve-se dizer que eles já estavam lá muito antes de o atual presidente chegar. Hoje em dia, devem ser tocados apenas pelos funcionários que lhes tiram o pó.

As estantes também abrem discussões e análises sobre seus donos.

A de Caetano Veloso, que dividiu o protagonismo da live de aniversário com o cantor e seus filhos, foi dissecada prateleira por prateleira. Edições raras, fotos, uma bandeira do Brasil reinterpretada, peças de arte, o cenário perfeito para 78 anos de vida. A próxima biografia de Caetano terá, obrigatoriamente, um capítulo para a estante.

Marcelo Adnet estava diante de uma no Roda Viva —e houve quem dissesse que queria imitar Caetano. A resposta veio no vídeo que o humorista fez depois sobre o decorador de prateleiras, para quem quer luxos, alegorias e adereços na sua live.

Se as estantes falam, nada mais ilustrativo do desprezo de Paulo Guedes pelos livros do que as prateleiras atrás dele, em uma foto que circula por aí.

Uma caneca. Um troféu.

Uns poucos volumes deixados sem nenhum capricho. Nichos completamente desertos, nem sequer a biografia do Adam Smith, um santinho ou o retrato da família para enfeitar.

Aquilo não é uma estante, é o argumento para defender o livro contra a taxação. Bora.

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