Siga a folha

Repórter especial, foi membro do Conselho Editorial da Folha e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot.

Esquerda, volver (calma, é em Londres)

Trabalhistas tentam reinventar a social-democracia

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

O Partido Trabalhista britânico virou à esquerda em seu congresso anual realizado esta semana: aprovou um programa que, de alguma maneira, reinventa a social-democracia, uma tribo que, em toda a Europa, vem sofrendo uma hemorragia fenomenal de votos.

Para ser mais exato, os trabalhistas já haviam virado a esquerda há exatamente três anos, quando, em setembro de 2015, elegeram para liderá-los um certo Jeremy Bernard Corbyn, deputado havia, então, 32 anos.

 Corbyn era considerado socialista, bem à esquerda de dois dos líderes anteriores do Partido Trabalhista, Tony Blair e Gordon Brown, que comandavam a então chamada Terceira Via. Seria um caminho intermediário entre as tendências estatizantes tradicionais da social-democracia e o liberalismo puro e duro que Margaret Thatcher implantara no Reino Unido.

O atual líder do Partido Trabalhista britânico, Jeremy Corbyn, durante o encontro da sigla em Liverpool - Hannah McKay - 26.set.18/Reuters

A Terceira Via chegou a angariar adeptos até no Brasil: tanto Fernando Henrique Cardoso como Luiz Inácio Lula da Silva participaram de reuniões do grupo, cada um em seu período presidencial.

Mas havia, no Brasil, quem a desprezasse, caso, por exemplo, do filósofo Roberto Mangabeira Unger (hoje, de novo, trabalhando com Ciro Gomes). “É neoliberalismo com desconto", ironizou certa vez.

Quando os trabalhistas perderam o governo para os conservadores, em 2010, a Terceira Via murchou.

Renasce agora, mas com uma fisionomia mais próxima da esquerda do que do centro.

John McDonnell, o trabalhista que é o ministro da Economia no gabinete alternativo da oposição, anunciou o desejo de aprovar lei que obrigue as empresas de mais de 250 empregados a criar um "fundo de propriedade" com parte dos lucros, que irá, em parte, aos funcionários da empresa, para lhes dar maior participação nas decisões.

Outra parte irá para um fundo social destinado a melhorar os serviços públicos.

McDonnell, relata El País, deu números: cerca de 11 milhões de empregados se beneficiariam e o salário anual deles aumentaria aproximadamente € 560 (R$ 2.624). Mais ainda: um terço dos lugares nos conselhos de administração iria para os trabalhadores.

Sovietes nas empresas britânicas? Calma. País com sólida tradição anticomunista, a Alemanha tem mecanismo similar: nas empresas cotadas em Bolsa, representantes dos funcionários participam do chamado “Conselho de Supervisão", de poderes limitados. Ainda assim, ajuda a compor o modelo alemão de busca do consenso.

Um segundo ponto do novo programa trabalhista vai na mesma direção: propõe reestatizar serviços públicos, como a eletricidade, a água, os trens e o serviço postal.

Mas a gestão não seria estatal e, sim, pública: dela participariam as prefeituras e câmaras de vereadores, trabalhadores e consumidores.

Soa como o reconhecimento de que o Estado não é um bom gestor.

Se vai funcionar ou não, é cedo demais para dizer. Primeiro, o Partido Trabalhista terá que recuperar o poder, depois de pelo menos oito anos de travessia do deserto. Segundo, terá que lidar com o "brexit", a saída do Reino Unido da União Europeia, tenha ou não sido feito algum acordo até a eventual vitória trabalhista.

Só então poderá unificar as correntes trabalhistas em torno de uma proposta que foge da lógica dos últimos muitos anos, em todos os grupos da social-democracia europeia.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas