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Paraense, jornalista e escritora. É autora de "Tragédia em Mariana - A História do Maior Desastre Ambiental do Brasil". Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense.

A escravidão mora ao lado

Formas contemporâneas de submissão de trabalhadores perduram no país

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O caso aconteceu num dos bairros mais ricos da cidade mais rica do Brasil. Uma mulher, de 61 anos, foi abandonada num depósito de trastes nos fundos da casa dos patrões, em São Paulo, sem salário, sem comida e sem banheiro, em plena pandemia. Segundo a investigação, a idosa trabalhava para a família havia 22 anos. A patroa, Mariah Corazza Ustundag, foi indiciada por submeter a empregada a condição análoga à escravidão. Pagou fiança de R$ 2.100 e foi liberada.

Formas contemporâneas de submissão de trabalhadores perduram num país de tão entranhado legado escravocrata. Em 2003, o Ministério do Trabalho deu início a uma política de combate a essa aberração ao criar a Lista Suja do Trabalho Escravo, que, periodicamente, divulgava os nomes dos empregadores autuados por manter trabalhadores em situação similar à escravidão. A Organização Internacional do Trabalho considerou essa política pública um exemplo a ser seguido na luta contra a exploração degradante de trabalhadores.

A Lista Suja, porém, nunca foi aceita sem questionamentos judiciais por entidades patronais, que consideram o cadastro uma afronta ao direito de defesa das empresas. A ação mais recente à espera de julgamento pelo plenário do STF questiona a constitucionalidade da Lista Suja. Enquanto não se chega a uma pacificação jurídica sobre o tema, o Executivo —já desde o governo de Michel Temer— vem fazendo a sua parte para, praticamente, anular o enfrentamento ao trabalho escravo.

O resgate de trabalhadores costumava acontecer nos cafundós da Amazônia, em canteiros de obras ou em oficinas de costura que exploram imigrantes. Desta vez, porém, a doméstica resgatada trabalhava numa casa no Alto de Pinheiros, endereço de políticos, empresários, enfim, "gente de bem". Não se deve ao acaso que, há décadas, exista no bairro um restaurante chamado Senzala, palavra associada ao massacre de escravizados no Brasil. A escravidão mora ao lado.

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