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Coluna é assinada pelo jornalista e tradutor Daniel de Mesquita Benevides.

As aventuras etílicas de Peter O'Toole

'Gosto desses dias que a gente vai beber em Paris e acorda na Córsega', dizia

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Se você visse Peter O'Toole num pub talvez pensasse: esse aí não vai durar muito. Dependendo da hora, ele já teria acabado com boa parte do estoque do bar. E com a paciência de um ou outro —e não faria diferença se fosse um policial. Tudo certo. Essa seria uma noite corriqueira na vida do ator de "Lawrence da Arábia".

"Gosto desses dias que a gente vai beber em Paris e acorda na Córsega", dizia. O que acontecia bastante. Numa dessas escarrapanas homéricas, Michael Caine acordou achando que era a manhã seguinte —mas era dois dias depois. Perguntou ao anfitrião: "Peter, você lembra o que a gente fez?". Nesses casos, O'Toole sempre respondia: "Melhor não lembrar, meu caro".

Seus amigos de bebedeira sem freios eram tão famosos quanto ele. Richard Burton e Oliver Reed não aguentaram a maratona e saíram de cena mais cedo —aos 58 e aos 61, respectivamente. Burton dizia beber para enfrentar o vazio que se seguia quando deixava o palco ou terminava as filmagens. O'Toole bebia porque era líquido.

Viveu 81 anos, a despeito de todas as previsões médicas, astrológicas e estatísticas —era o Keith Richards do cinema. Passou a infância numa região pobre de Leeds, na Inglaterra. Três de seus amigos foram enforcados por assassinato. Dizia: "Não vim da classe trabalhadora, mas da classe criminal". Seu pai agenciava apostas em cavalos, o que era proibido. Volta e meia fugia da polícia ou dos credores, com o filho numa mão e uma garrafa na outra.

O'Toole se considerava irlandês como o pai. Sempre usava meias verdes para afirmar seu patriotismo. Especialmente quando o governo britânico vetou qualquer símbolo ligado à terra de Joyce e Jameson. É como o ditado: "Há dois tipos de pessoas no mundo, os irlandeses e os que gostariam de ser irlandeses". Bons de literatura, bons de briga e bons de copo. Autoestima é isso.

Era uma coisa que ele, indicado oito vezes ao Oscar, tinha de sobra. Jovem, declarou (não sem alguma solenidade): "Não serei um homem comum, tenho o direito de ser extraordinário". E cumpriu: "Acordei um dia e vi que era famoso. Comprei um Rolls Royce e saí pela Sunset Boulevard com óculos escuros e um terno branco, acenando como se eu fosse a rainha".

Parou de beber muitos anos antes de encontrar-se com a indesejada das gentes, em 2013 —a vaidade o proibia de definhar sem receber mais aplausos, conquistar mais mulheres e provocar mais os conservadores. Um câncer quase fatal também ajudou a deixá-lo sóbrio. Sempre um devoto dos sentidos, porém, trocou o uísque irlandês por cocaína e maconha, que ele mesmo plantava. Sensato.

Mas não foi bem assim. Sob os panos, continuou com seu hábito favorito. Durante as filmagens de "Tróia", disse: "Esse Brad Pitt é um canalha. Fica me levando para o mau caminho". Estava brincando, claro. Mas falou sério quando se recusou a receber o Oscar honorário em 2002 —afinal, não serviam bebidas alcoólicas na cerimônia. Como assim? Num estalo de dedos, surgiu uma garrafa de vodca, que bebeu no camarim com Meryl Streep, antes de ela apresentar seu prêmio.

Para comemorar seu aniversário, que seria neste sábado, dia 2, nada melhor do que essa versão do Jack Rose criada por Dale DeGroff, como sugerida pelo Guia Difford.


WILD IRISH ROSE

60 ml de uísque irlandês

15 ml de suco de limão siciliano

7,5 ml de xarope de açúcar

7,5 ml de grenadine

15 ml de club soda

Bater os quatro primeiros ingredientes com gelo e coar para uma taça coupe. Finalizar com a club soda e uma casca de limão siciliano.

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