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Ator, comediante e roteirista, é um dos criadores da TV Quase, que exibe na internet o programa "Choque de Cultura".

Ou morre ou sai daí

Frágil, hipócrita e viciado em bajulação, o rock já nasceu moribundo

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O Dia Mundial do Rock, que aconteceu esse mês, é sempre muito triste. Nada reforça mais o estado vegetativo de algo do que os afoitos slogans tentando convencer de que ele não morreu, normalmente chancelados por bandas que nos fazem desejar que tivesse morrido —por mais que estejam com suas bandanas de estampa de caveiras.

A despeito dos esforços dos publicitários roqueiros, a questão é quem matou. O Kiss? A lambada? As hamburguerias com temática rock? As músicas comprimidas em arquivos digitais? A bateria eletrônica?

 

Sobre essa última, é difícil entrar no assunto sem parecer um velho reclamão, ainda que eu seja um velho reclamão, mas é difícil compreender o propósito de um dispositivo que emula uma pessoa tocando bateria, só que sem todos os aspectos orgânicos e sentimentais que fazem disso isso. Não tem nada a ver com saudosismo, mas ainda prefiro enfiar um garfo no olho do que viver o dia em que vou preferir um robô tocando bateria no lugar de uma pessoa, e sem esquecer também dos serviços de inteligência artificial de atendimento ao consumidor, incrivelmente mais burros que os seres humanos.

De qualquer forma, as opiniões mais otimistas sobre o tema tendem a passar pelas chamadas bandas independentes, ainda que estejam com a alma em promoção, convivendo com a glória de nunca terem se vendido por absoluta falta de ofertas. O aspecto mais charmoso talvez seja a falta de dinheiro (sempre um atestado de autenticidade), mas seria injusto não mencionar os encantos da ausência de estrutura, entre outros fatores que moldam a postura rock e destroem as bandas de rock.

Há quem diga que o rock tem que ser um hobby, uma válvula de escape para o emprego merda, o que faria do roqueiro profissional uma impossibilidade. Se a guitarra é plugada como obrigação, o fato é que entre a suposta morte cerebral do gênero no momento em que se assina um contrato e o amadorismo errante dos verdadeiros apaixonados está o retrato do estilo. Frágil, hipócrita e viciado em bajulação, o rock já nasceu moribundo, mas persistente. O iniciante nos dá uma ideia de como ele poderá ser quando tiver suporte; e o profissionalismo, que já estreia velho, nos mostra como ele era quando tinha coração.

É por isso que o rock sempre morre. Ele nunca é.

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