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Jornalista, trabalhou no Agora e no G1. Escreve sobre esporte no UOL.

Copa mostra que futebol feminino merece respeito, até de quem não gosta

Torneio proporciona imagens de jogadas lindas, voleios e cabeceios poderosos

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Com certa dificuldade para diferenciar os times em campo, Galvão Bueno reclamava da similaridade dos uniformes de Brasil e Jamaica quando Andressa Alves cruzou uma bola perfeita na cabeça de Cristiane. A maior artilheira de Olimpíadas não perdoou e abriu o placar do jogo que marcou a estreia com vitória do Brasil nesta Copa do Mundo.

"Que categoria!", elogiou o narrador, que comemoraria ainda mais dois gols da camisa 11. Como já é tradição neste orgulhoso país do futebol, após seu "hat-trick" Cristiane ganhou o direito de pedir uma música no "Fantástico", programa da TV Globo. E foi toda simpática e sorridente que ela cometeu seu segundo ato revolucionário desta Copa do Mundo (o primeiro foi marcar três gols em um único jogo, obviamente): disse que queria ouvir "Jogadeira".

"É uma música das meninas, da Cacau, que joga no Corinthians. Elas fizeram para o futebol feminino. Já descemos do ônibus cantando", disparou Cristiane, emendando o refrão do pagode. "Qual é? Qual é? Futebol não é pra mulher? Eu vou mostrar pra você, mané! Joga a bola no meu pé."

A canção, que agora viralizou na internet, já vinha havia alguns dias circulando nas redes sociais. Em um clipe gravado no Parque São Jorge, estádio do Corinthians onde o time feminino costuma atuar, Cacau, a ex-jogadora Gabriela Kivitz, atletas e personalidades do futebol, como Milene Domingues, cantam a história de dificuldades e superação de mulheres apaixonadas pelo futebol. A música é dedicada às meninas que sonham em se tornar jogadoras.

"Desde pequena muito preconceito, aqueles papos: 'Futebol não é para mulher'. Mas aprendi a dominar no peito, pôr no chão e responder com a bola no pé", começa a letra da música, que resume basicamente a vida de todo o mundo que já se aventurou em campos de futebol pelo Brasil.

Há duas semanas, conversava com um amigo que tentava, com delicadeza, me explicar por que não gostava de futebol feminino, apesar de ser fanático pelo esporte. Na sexta-feira, quando a França entrou em campo contra a Coreia do Sul, na abertura da Copa, mandei uma mensagem a ele perguntando se estava vendo o jogo.

Instiguei buscando a conversão, é verdade. Mas assistir à seleção francesa é daquelas experiências tão transcendentais e convincentes que, no final, você é capaz de jurar que o planeta é quadrado. Achei que valia a tentativa.

"A França realmente é um bom time", ele concordou. Passados dez minutos, meu celular apita de novo: "Você viu como a menina bateu esse escanteio? Deu um tapa na bola! Não tem ninguém no Corinthians que faça isso", me escreveu, num misto de admiração e indignação.

Responder com a bola no pé. Mais do que uma boa rima, é o conceito que está verdadeiramente transformando comportamentos durante esta Copa do Mundo.

Nikita Parris comemora gol na vitória da seleção inglesa sobre a Escócia, na Copa do Mundo - Jean-Paul Pelissier/Reuters

A memória afetiva de um monte de mulheres correndo atrás da bola nos churrascos de família está sendo, aos poucos, substituída por imagens de um futebol impecável taticamente, com jogadas lindas, voleios, cabeceios poderosos e cobranças de bola parada com precisão cirúrgica.

Imagens de um futebol profissional, que merece espaço, reconhecimento, visibilidade e, acima de tudo, respeito. Inclusive de quem não gosta.

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