Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

Lula sopra as brasas da inflação ao brigar com BC

O que ele pretende com declaração que estimula expectativas inflacionárias

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Durante quatro anos, Bolsonaro sonhou com cataclismas que nunca vieram.

Com menos de cem dias de governo, Lula está soprando as brasas da inflação ao brigar com o Banco Central e ao dizer que "se não pode cumprir [o teto de 4,75%], é melhor mudar".

Com esse tipo de declaração ele estimula as expectativas inflacionárias e aí fica uma questão: o que ele pretende com isso.

Bolsonaro sonhava com um caos que lhe permitisse tentar um golpe. Esse sonho não está no acervo de Lula.

Campos e sua comunicação

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, admitiu que "às vezes eu me vejo com alguma deficiência na comunicação" e prometeu melhorar.

Basta não agredir a inteligência de quem o ouve. Na sua entrevista ao programa Roda Viva, quando lhe perguntaram sobre a camiseta da seleção brasileira de futebol que vestiu ao ir votar, o doutor respondeu: "Voto é um ato privado".

A pergunta tratava de sua camisa.

Executivo previdente

Ainda não se conhecem os nomes dos diretores da rede varejista Americanas que venderam cerca de R$ 240 milhões de ações da empresa no ano passado, quando já sabiam que o negócio estava emborcado com um rombo bilionário.

Sabe-se, contudo, que pelo menos um deles transferiu o ervanário para as contas de familiares no exterior.

Pax Americanas

O anúncio de que os três grandes acionistas da rede Americanas colocarão até R$ 12 bilhões no poço da empresa esfriou o fervor de pelo menos um banqueiro contra o trio.

No dia 11 de janeiro, o então presidente das Americanas, Sergio Rial, anunciou seu desligamento da empresa e relatou ter encontrado "inconsistências" no montante de R$ 20 bilhões no balanço da companhia. O problema estaria na identificação de financiamentos bancários que deveriam ter sido reportados como dívida, falha que se arrasta há pelo menos sete anos. Folhapress/Eduardo Knapp

Trata-se do "risco sacado" quando o fornecedor recebe antes o pagamento de seus produtos ou serviços vendidos. Essa antecipação pode ser feita pela empresa contratante ou por bancos, que recebem depois o valor, com juros. Nos contratos de financiamento da Americanas para o pagamento de fornecedores, o montante não aparecia como dívida. /

No dia seguinte ao anúncio, as ações das Americanas afundaram 80%, caindo de R$ 12 para R$ 2,72, e a companhia perdeu em um dia cerca de R$ 8,4 bilhões em valor de mercado. Foi o maior tombo diário já sofrido entre as ações que atualmente fazem fazem parte do Ibovespa, segundo dados da plataforma de investidores TradeMap. Reuters/Sergio Moraes

No dia 13, sexta-feira, a Abradin, associação que reúne minoritários de empresas de capital aberto, apresentou denúncia à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) para pedir apuração de responsabilidades sobre os problemas contábeis das Americanas. O Procon-SP também notificou a companhia.. Reuters/Ueslei Marcelino

Ainda na sexta, a Americanas entrou com pedido de tutela de urgência cautelar junto à 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro. O juiz Paulo Assed concedeu a medida, que tem o objetivo de suspender qualquer possibilidade de bloqueio, sequestro ou penhora de bens da varejista, que também fica desobrigada de pagar suas dívidas até que um eventual pedido de recuperação judicial seja feito à Justiça.. Reuters/Ueslei Marcelino

O banco BTG Pactual recorreu na Justiça contra a liminar que protege a varejista Americanas dos credores, mostram documentos vistos pela Reuters. Em recurso interposto no sábado (14), os advogados do banco argumentam que a liminar determina ilegalmente o estorno de um pagamento feito pela Americanas ao BTG.. Reuters/Amanda Perobelli

Na segunda-feira (16), a S&P Global rebaixou a nota de crédito da Americanas de "B" (na escala global) e de "brA-" (na escala nacional Brasil) para "D", o que significa situação de default (calote).. AFP/Mauro Pimentel

Também na segunda (16), Sergio Rial foi substituído na tarefa de tentar acalmar bancos credores e investidores, que havia assumido informalmente. O conselho de administração da Americanas contratou a Rothschild & Co como interlocutora na renegociação da dívida, no Brasil e no exterior. O banco de investimentos, controlado pela família Rothschild, tem escritórios em 57 países e Luiz Muniz, que chefia o braço brasileiro, é próximo do trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles que, juntos, possuem 31% da varejista.. Folhapress/Zanone Fraissat

Na terça-feira (17), Sergio Rial rompeu o silêncio e publicou no LinkedIn sua versão sobre a notícia de que o balanço da Americanas deixou de contabilizar dívidas de R$ 20 bilhões. Na postagem, ele afirma que a motivação dele ao aceitar o cargo foi levar a companhia ao crescimento. Para isso, Rial diz ter entrevistado executivos remanescentes para entender suas preocupações e perspectivas para a empresa.. Folhapress/Eduardo Knapp

Dias depois, em 19 de janeiro, a Americanas entrou oficialmente em recuperação judicial, com uma dívida de aproximadamente R$ 43 bilhões com 16,3 mil credores, configurando o quarto maior pedido de recuperação judicial da história do Brasil. Folhapress/Bruno Santos

A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) montou uma força-tarefa para o caso Americanas e vai investigar a conduta dos acionistas de referência da companhia, o trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles. Eles dizem que jamais tiveram conhecimento e que nunca admitiriam quaisquer manobras ou dissimulações contábeis na companhia. /

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