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Professor universitário, ex-ministro da Educação (governos Lula e Dilma) e ex-prefeito de São Paulo.

Ménage à trois

Bolsonaro deveria convidar mercado para se unir ao centrão

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Três meses atrás, escrevi neste espaço: "Os dilemas de Bolsonaro nunca foram de natureza ética, tema que ele desconhece. O dilema de Bolsonaro, agora real, é de natureza econômica... A dúvida que lhe aflige é sobre os efeitos da permanência de Guedes e sua cartilha econômica vintage. Bolsonaro terá que decidir quem paga a conta. Entre o povo e a reeleição, de um lado, e o mandato e o mercado, de outro, a sinuca do impeachment.".

Nesta semana, Guedes surpreendeu Bolsonaro com o seguinte alerta: "Os conselheiros do presidente que o estão aconselhando a pular a cerca, a furar o teto, vão levar o presidente para uma zona de incerteza, uma zona de impeachment". "O presidente sabe disso e tem nos apoiado", arrematou. Mandetta e Moro que o digam.

A equiparação entre "furar o teto" e "pular a cerca" coloca a prática no rol das possíveis traições ao "mercado" que dariam base ao afastamento. Participar de ato pelo fechamento do Supremo, prescrever cloroquina, obstruir a Justiça no encalço do primogênito por peculato e lavagem de um bom dinheiro, nada se assemelha ao único e verdadeiro crime de responsabilidade: enganar o mercado.

Bolsonaro, então, ensaiou, na sua última live circense, a possível solução para manter o mandato e se reeleger. "O teto é o teto... o piso sobe... e cada vez mais você tem menos recursos... a ideia de furar teto existe, o pessoal debate, qual o problema? Mas alguém vazou... o mercado reage, o dólar sobe, a Bolsa cai... mas esse mercado aí, tem que dar um tempinho... um pouquinho de patriotismo não faz mal a eles."

Em vez de enganar o "mercado", por que não convidá-lo, em nome da pátria, para um ménage à trois com o centrão? Obviamente, não é no charme de Bolsonaro que o mercado está interessado, e cabe-nos perguntar sobre os termos da troca política, ou seja, o que se ganha e quem, afinal, perde.

Para conhecer os perdedores, basta recapitular as negociações que estão em curso em torno das "reformas", pelas quais: trabalhadores com carteira assinada perdem o que restou dos seus direitos com a carteira verde e amarela; servidores públicos de baixa e média renda são penalizados com a reforma administrativa, enquanto a elite do serviço público é poupada; os serviços públicos, sobretudo saúde, educação superior e segurança continuam sofrendo cortes; as estatais são preparadas para venda.Sem dúvida, diante de um pacote desses, o "patriotismo" pode falar mais alto.

A elite brasileira sempre foi tida por míope. Se participar desse ménage é porque nem de perto é capaz de enxergar.

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