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Roteirista. Escreve para programas e séries da Rede Globo.

Descrição de chapéu

Cachorros são polêmicos

Quando adotamos Madalena, ela até parecia inofensiva

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O que vou contar agora é o duro relato sobre um ser vivo que, mesmo fofinho e muito bonitinho, possui opiniões bastante polêmicas. Digo "ser vivo" porque, diferentemente de um ser humano, trata-se de um canídeo de um ano e quatro meses.

Quando adotamos Madalena, ela parecia inofensiva, tirando a enorme quantidade de cocô produzida e sua preferência por roer objetos de luxo, como smartphones e cartões de crédito. Todos do bairro a adoravam. Chamavam-nos de "donos da Madalena". Nossa vizinha dirigia a palavra apenas para perguntar por Madá. Até que nossa cachorrinha mudou.

Começou com alguns latidos para uma sobrinha e rosnadas para garotos no portão. Em pouco tempo, Madalena estava correndo e latindo atrás de crianças na praça do bairro, enquanto mães gritavam por seu sacrifício.

Quando achávamos que o ranço se restringia a pequenos humanos, Madalena passou a latir e a correr atrás de outra faixa etária— a de maiores de 70 anos. Era fato. Nossa cachorrinha não gostava de crianças e idosos. Precisávamos agir ou seríamos exilados da praça, do bairro e da sociedade.

Contratamos um adestrador que seguia o método "reforço positivo". Madalena deveria ser recompensada com petiscos e afagos sempre que agisse corretamente. Apelidamos de "método millennial". Misturamos com outro tipo de adestramento, no qual deveríamos agir como líderes de matilha e impor autoridade.

Após muita persistência e petiscos —e uma avó que joga comida por baixo da mesa—, a bichinha finalmente superou sua implicância com crianças e idosos. Ufa.

Eu poderia ter defendido Madalena. Dito que não gostar de crianças e idosos era apenas sua opinião. Ou que ela era apenas uma garota —13 anos na idade canina— e não aprendeu a se frustrar.

Acho que não iria colar. Mas, se Madalena fosse um humano adulto, poderia usar essas mesmas justificativas para agredir e ofender outras pessoas. Afinal, ela teria o livre direito de expressão e não tem sangue de barata. Mas, se até uma cachorrinha aprendeu, quem sabe os humanos não consigam.

P.S.: Agora Madalena está implicando com as freiras do colégio católico ao lado de casa. Poderia defender seu direito de não concordar com a posição da mulher na Igreja Católica. Mas não. Voltemos aos petiscos.

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